Em busca da utopia, uma terra sem males


A Cachoeira da Onça representou o que posso considerar o primeiro contato direto com alguma coisa da floresta amazônica, uma pequena amostra, muito acanhada certamente, mas já é um começo. Dá pra sentir que a gente está numa mata diferente, uma certa grandiosidade se imaginamos nosso mato da Chapada Diamantina ou (é sacanagem!) nossa caatinga do sertão baiano.

A caminhada pela trilha é um exercício prazeroso e saudável

A cachoeira propriamente dita é pequena, mas o seu entorno é grande.
Aquelas árvores compridas, produzindo sempre sombra, uma variedade de plantas, muitos riachos (chamados aqui igarapés) e pequenas pontes por toda a trilha, em torno de dois quilômetros, da sede da reserva ecológica até a cachoeira. Uma gostozura a caminhada.

Pequenas pontes embelezam a travessia dos igarapés

Fala-se numa grande variedade também de pássaros, animais e o que os técnicos chamam de formações rochosas।



Leitura da Carta da Floresta, uma exortação pela preservação


A Reserva Particular de Proteção Natural é mantida pela Fundação Rede Amazônica, que, por sua vez, é mantida pela Rede Amazônica de Rádio e Televisão, cuja TV é a repetidora da Rede Globo no estado।


Cachoeira da Onça em reserva no município de Presidente Figueiredo


Fica no município de Presidente Figueiredo (que nome!), a 107 quilômetros de Manaus, por uma BR que pode levar você até Boa Vista, capital de Roraima, depois de rodar 820 quilômetros (o asfalto é ótimo, mas quase sem acostamento, pelo menos nesta parte inicial, depois não sei, tem pela frente uns 100 quilômetros de barro numa reserva indígena, onde há restrições quanto a se rodar à noite).

A visita à reserva, de ônibus (três ônibus), na quarta-feira, dia 19, fez parte da programação do Festival Literário Internacional da Floresta – Flifloresta, ao qual já me referi na matéria anterior, SOS Amazônia। Paguei mais 25 reais, com direito a café da manhã, para a viagem.

Os organizadores do seminário (A Livraria Valer, a maior de Manaus, foi o principal patrocinador) quiserem apresentar, num ambiente apropriado, à sombra das grandes árvores e ao som da queda d'água, a Carta da Floresta.

Um pagé (com ramos) e outros representantes de nações indígenas

E assim o fizeram. Com simplicidade, mas com toques solenes, a combinar com o tema e local. Nada contundente, são declarações de princípio mais chegadas ao formal. Fala da crença "na utopia e na realização do sonho de edificação de uma terra sem males".

"Afirmamos nosso compromisso em defendê-la (a Amazônia) e empreender esforços para promover iniciativas capazes de preservá-la como espaço vital do ser humano, dos bichos, das plantas, das águas, dos passarinhos. De todos os seres, inclusive os encantados". E vai por aí... Bonito, poético.

Comentários

Mônica Bichara disse…
Que experiência fantástica, Jadson! Imagino que você esteja curtindo muito essa viagem - calma que a fotógrafa Deta já está em contagem regressiva para ir ao seu encontro, mas por enquanto você está se revelando também um fotógrafo bem atento. Parabéns pela coragem de se aventurar por essas bandas e obrigada por compartilhar suas descobertas. Publique a carta. Beijão
Anônimo disse…
Este pagé tá muito urbanizado. Rola até camisa por dentro da calça. E que folha suspeita é essa na mão dele? Calma, apenas a Amazônia é legal. kkkkkkk!!
Jadson disse…
Ernandes, suas tiradas espirituosas estão animando nosso blog. Aquela do desmatamento cortando Pinheiro, lá no MB, foi demais.

Mônica sugere a publicação da Carta da Floresta. Tenho dúvida se vale a pena, pois embora tenha achado bonita, creio que as afirmações são muito genéricas. Como diria o nosso José Irecê, “muito cheiro mole”. Vão aí na íntegra as 10 conclusões da Carta:
1 – que a Amazônia brasileira pertence ao povo brasileiro, que, por meio de suas instituições, deve agir para protegê-la em benefício das suas populações e da humanidade;
2 – que os países amazônicos devem agir, em cooperação mútua, para proteger seus ecossistemas em benefício das suas populações e da humanidade;
3 – que as intervenções sociais, econômicas e políticas para a Amazônia, quando necessárias, partam das necessidades e valores das suas populações, e não de interesses que se superponham a essa peculiaridade;
4 – que a Amazônia seja compreendida como múltiplos e complexos sistemas biológicos e culturais, cuja interdependência não pode ser negligenciada em prejuízo do ambiente e das suas populações;
5 – que as decisões de políticas públicas e outras formas de intervenção na natureza e no ambiente social, quando necessárias, se efetivem por meio do diálogo entre conhecimento, tecnologia e os saberes tradicionais dos povos amazônicos;
6 – que as culturas amazônicas, nas suas mais variadas manifestações de criatividade e saber, sejam sempre reconhecidas como produção intelectual indissociável dos seus produtores individuais ou coletivos;
7 – que se expresse o repúdio, de forma imediata e enérgica, a quaisquer formas de manifestações de preconceitos e de vontade de subjugar os povos da Amazônia;
8 – que os governos dos países amazônicos empreendam ações conjuntamente para assegurar os deslocamentos culturais das populações tradicionais que vivem nas regiões fronteiriças, para que as suas terras tenham a legitimidade e a continuidade referendadas por suas tradições;
9 – que os conflitos inerentes às cidades e o meio rural amazônicos sejam mitigados pelo Poder Público e pela sociedade, para que não se transformem em risco à qualidade de vida humana e da natureza;
10 – por fim, que a Amazônia represente e seja reconhecida, sempre, como um grande gesto de amor por toda a Humanidade.