Pressão popular contra latifúndio midiático III


Entrevista (cont.)
Pressão popular para avançar

Ativistas da CPC/PR representam mais de 20 entidades


P – Do ponto de vista ideológico e político – onde está o “x” da questão –, quais são, na sua opinião, as tarefas e perspectivas dos movimentos sociais diante da missão quase impossível de começar a mexer nos chamados latifúndios midiáticos no Brasil?


Rachel Bragatto -
A comunicação é uma atividade central e estratégica, na medida em que forma valores, difunde ideias e molda, em grande medida, nosso modo de ver o mundo. Nesse sentido, deve ser um direito de todos os cidadãos. Para nós, do Intervozes, o direito à comunicação é indissociável do exercício da cidadania e da democracia. Uma sociedade só pode ser chamada de democrática quando as diversas vozes, opiniões e culturas que a compõem têm espaço para se manifestar.

João Paulo Mehl - A mídia detém uma força dupla. Primeiro, porque é um mercado poderoso, que gera divisas enormes, e do qual depende, em certa medida, o sistema capitalista como um todo, já que é por meio da mídia que se propagandeiam produtos, se criam tendências e necessidades de consumo. Segundo, porque é a interface entre o mundo e os cidadãos, uma vez que traduz a realidade por meio de valores e opiniões que interessam a estes mesmos grupos hegemônicos que controlam os meios. Portanto, como já foi dito, os meios de comunicação são o "quarto poder" e não podem ser explorados livremente, como se fossem qualquer tipo de produto. São necessárias regras, restrições, obrigações que tornem a comunicação uma área passível de controle público e que reflitam a diversidade de pensamento existente na sociedade. Esse tipo de reivindicação é histórico, está no embrião da luta por democratização da comunicação.
Entretanto, ao contrário do que ocorre em alguns países, aqui não conseguimos garantir estes avanços. Já houve algumas importantes sinalizações, como a Classificação Indicativa (instrumento importante para auxiliar os pais na classificação da grade de programação), mas tudo muito tímido. O governo segue refém da mídia corporativa. Porém, com a Conferência de Comunicação e a mobilização da sociedade civil é possível que avancemos. Tais mudanças só ocorrerão com pressão popular, jamais por benesse dos empresários.

P – Há quem diga que avanços só virão com a mobilização popular, com o povo nas ruas.
João Paulo Mehl - Nunca na história do Brasil obtivemos qualquer avanço democrático e significativo sem pressão popular। Portanto, é fundamental a participação dos diversos movimentos sociais, entidades, sindicatos neste processo, pois só com mobilização e o povo na rua é que iremos conquistar os avanços que o Brasil precisa na área da comunicação।

P – Como você vê, em relação à luta por avanços na Confecom, a atuação do governador Roberto Requião, que tem posições nacionalistas e dá espaço a setores da esquerda na TV Paraná Educativa?

Rachel Bragatto - O que podemos dizer é que até o momento o governador tem apoiado a luta pela Confecom। Ainda no ano passado, em dezembro, a pedido da CPC/PR, ele lançou uma nota pública requerendo a convocação da conferência pelo presidente Lula। Quer dizer, parece haver uma sensibilidade do Executivo estadual quanto à importância de se discutir a comunicação de forma mais ampla, envolvendo outros setores e não apenas o poder público e empresários।

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