As burocracias da chegada

De La Paz (Bolívia) – A maioria das pessoas adora viajar (eu nem tanto). Porém, tem uma parte chatíssima, que costumo chamar de “burocracias da chegada”. Me refiro especificamente às viagens internacionais, com as complicações do manejo de uma língua estrangeira, tudo agravado quando se trata da primeira vez, sozinho, numa cidade:

1 – Providenciar a troca de moedas e se adaptar ao valor da nova moeda;
2 – Negociar com o taxista o preço da corrida até a região mais central da cidade (na moeda local que você acabou de conhecer ou em dólares), sabendo que está sendo roubado. Creio ser quase uma fatalidade;
3 – Escolher um hotel, às vezes baseado na indicação do taxista (no meu caso, um três estrelas, mais ou menos, assim e assado, diária entre o equivalente a 40 a 60 reais, um porre!);
4 – Atualizar o celular, trocar chip ou comprar outro, ver códigos para ligar e receber ligação de seu país;
5 – Providenciar acesso à Internet – configurar seu lap-top ou às vezes fazer novo contrato com prestadora local de serviço. Este problema atualmente está bastante facilitado, principalmente nos hotéis mais caros, pois eles já têm esquema de acesso incluído no preço da diária. (Contratei tal serviço na Bahia com a Claro, incluindo a compra de modem, com a garantia de usá-lo em qualquer país da América do Sul. Porra nenhuma! Enrolação pura).

Há pessoas que evitam muitos desses transtornos, programando a viagem, reserva de hotel, etc, mas eu não consigo. Já tentei, via Internet, e desisti. Vou topando os problemas e resolvendo na hora, na marra, torcendo para não me estrepar. Até agora tem dado certo. Dizem que sou uma pessoa de muita sorte.

EX-FUTURO GUERRILHEIRO LEVA UM SUSTO - No caso especial de La Paz, topei com um sério agravante: o tal do “mal da altura” ou “mal da montanha”. Não faltou quem me avisasse, mas não dei atenção. Mantenho uma certa autoconfiança, talvez até temeridade, sentimentos mais adequados à juventude (embora os jovens sejam atacados também pela insegurança). Gosto de dizer que é mania de ex-futuro guerrilheiro, sem contar que ao servir o Exército aprendi que “soldado é superior ao tempo”.

Pois é, tomei um susto dos diabos. Me atacaram o baticum acelerado do coração e dor de cabeça, além de uma fraqueza braba: andava duas quadras, com passo lento, e ainda tinha que parar para descansar. Me senti, prematuramente, um velho em estado terminal (costumam aparecer também náuseas e falta de apetite, não foi meu caso). Bem, me tranqüilizaram, que era normal, tomei uns comprimidos (“Sorojchi Pills”), continuo tomando chá de coca e mascando a folha. E melhorando. Hoje, no meu quinto dia em La Paz, ainda não estou 100%. Mas chego lá, vamos ver. Tem ainda a aporrinhação do frio, a pele ressecada, etc.

A capital boliviana fica a 3.600 metros acima do nível do mar. Isso é muito badalado na imprensa brasileira quando a seleção de futebol joga aqui, como é o caso deste domingo, dia 11 (o Estádio Ernando Siles fica juntinho do primeiro hotel em que me hospedei aqui, no bairro Miraflores). Realmente não sei como nossos jogadores agüentam correr, presumo que sejam “dopados” através de recursos da medicina moderna. Não é à toa que em 1981 foi a última vez que o Brasil, sob a direção técnica de Telê Santana, ganhou (2x1) da Bolívia, jogando aqui em La Paz.

A POLÍTICA ESTÁ FERVENDO - Entonces, vamos ver se de agora em diante cuido de “burocracias” mais prazerosas. Buscar uns bares e restaurantes aconchegantes, identificar ruas e praças agradáveis, lugares interessantes e acompanhar a política, que está fervendo com a campanha para as eleições do próximo dia 6 de dezembro.

Haverá decisões para presidente da República e vice (provável reeleição de Evo Morales) e para as duas casas do Congresso, onde parece residir mais expectativa, já que atualmente o governo tem minoria no Senado e se vira para reverter o quadro. Os eleitores (ao todo os inscritos devem chegar ao redor de 4,5 milhões) vão votar também para as tais autonomias – departamental, regional, provincial e indígena -, as quais espero estudar e entender para passar aos meus prezados leitores.

Comentários

Jadson disse…
Amoreco, alguém já disse que o homem é o seu estilo.
Aproveito para uma pequena correção: o nome do estádio de futebol é Hernando Siles, assim com "H". É o nome de um ex-presidente daqui (1926-1930).
Anônimo disse…
Você devia processar logo a Claro e ganhar mais grana para viajar.

Falando nisso, lendo sobre a Nova Zelândia, vimos que o regime lá, desde o fim da 2ª Guerra é praticamente Socialista, com o partido trabalhista no poder e com programas sociais de distribuição de renda, com a população toda (praticamente) sendo de classe média.

Não quer ir pra lá também não?

Saudades, Fabiano
Jadson disse…
Fabiano, pelo que sei, muito superficialmente (tenho me dedicado a acompanhar as coisas na América Latina), na Nova Zelândia predomina aquela coisa do Estado de Bem-Estar Social, que era adotado na Europa ocidental, mas que sofreu uma marcha-a-ré no apogeu do neoliberalismo. Lá parece que continua, né?
Obrigado pelo convite, mas, pelo menos por enquanto, quero continuar concentrado aqui pela América Latina/Caribe.
Quanto à Claro, tenho ojeriza a essa coisa de processo judicial. Prefiro encarar tais sacanagens como coisa normal no capitalismo, afinal, vivemos para ganhar dinheiro, make money, tirar "ganancias", como se diz no espanhol, quanto mais melhor.
Abraços.
Anônimo disse…
Jadson,
Eu disse que você tem muita sorte e é verdade. Quantos de nós, ex-militantes, tem a oportunidade de visitar países como Cuba e etc, com Evo Morales sendo o mais simpático. E quem sabe um dia, com mais grana, poderá visitar a terra que foi a do nosso maior ídolo, o grande Mao.

Eny
Jadson disse…
Eny, vc e suas simpatias por nosso Evo Morales e também pelas roupas coloridas dos indígenas (seu sangue cigano, como vc diz), os povos originários, que hoje estão com toda força na Bolívia, depois de 500 anos de matanças e humilhações.
Realmente, Mao era nosso guru dos velhos tempos do PCdoB da década de 70.
Quanto à sorte e às viagens, vamos ver. Primeiro América Latina, depois, quem sabe? Europa, China... quem sabe? Beijo.
Passei por essa barra a muitos anos atrás, tinha 24 anos e a sensação é a mesma, tomei muito chá de coca...
abração
Jadson disse…
Pois é, companheiro Rui, depois de uma semana e pouco estou convivendo melhor com o tal "mal da altura", mas o diabo é que quando tomo um uísque (um só!), o baticum do coração dispara. Como viver sem tomar um uísque? é a grande questão com a qual me deparo. Abraço.
Vanda Amorim disse…
Cara,
Não acreditei quando encontrei Elcie e, depois de contar que estive em outubro na Bolívia e Peru, ela perguntou se eu tinha lhe procurado. Porra!Não sabia que você estava por aí. Estive em La Paz de 6 a 12, fui ao estádio assistir Brasil e Bolívia e também passei dificuldades com a altitude. Quase vou ao comício de Evo, mas estávamos muito cansados e depois de chegar no hotel (Torino, pertinho da Plaza Murillo)arriamos. Adoraria ter encontrado vc. Lição para que eu acompanhe seu blog. Quem sabe não nos encontramos em outras paragens. Um abraço.