Último passeio pela cidade

De Assunção (Paraguai) – Amiga, como estás? Hoje quero te mostrar alguns lugares e paisagens por onde circulei na capital guarani, esta cidade meio suja, de ruas meio esburacadas, de trânsito confuso, a maioria dos cruzamentos, mesmo no centro, sem semáforos, muitos ambulantes pelas calçadas. Bastante desorganizada, especialmente para quem olha com olhos acostumados a Curitiba (PR).


Antigo Cabildo, hoje Centro Cultural da República


Catedral de Nuestra Señora de la Asunción

Hoje, como prometi, não vou falar de política. Vamos aqui pela Praça da Independência, uma área muito simpática (parte dela chama-se Praça Juan de Salazar y Espinoza, o fundador da cidade em 1537). Estão aqui o antigo Cabildo (instância importante na administração das colônias espanholas, espécie de prefeitura), prédio histórico que já foi Palácio do Governo, depois Parlamento e hoje é o Centro Cultural da República; a Catedral de Nuestra Señora de la Asunción; o Comando da Polícia Nacional; e as sedes da Câmara dos Deputados e do Senado (local já referido aqui ao falarmos do Palácio do Legislativo e a “chacarita”/favela).


Moderno prédio onde funciona o Senado


Palácio do Governo

Logo a duas quadras, amiga, estamos em frente ao belo Palácio do Governo (Palácio dos López), onde despacha o presidente da República. Junto está a Praça dos Desaparecidos (já objeto de matéria aqui no blog) e, descendo um pouco, temos o porto do Rio Paraguai, à esquerda correndo em direção à Argentina. (Me avisaram que é perigoso descer até o porto, mas estive aqui duas vezes e foi tudo tranqüilo. Lembre que a favela e o Bairro Chinês estão nas proximidades). Hoje faz calor, esse calorzão abafado. Curioso, amiga, como o tempo muda aqui tão bruscamente. Estamos no terceiro dia de calor, depois de quatro dias de frio, que chegou até aos 8 graus. Em seguida ao calor, vem a chuva. As pessoas dizem: “Hoje ainda é calor, amanhã deve chover”.

PRAÇA DA DEMOCRACIA É O MEU XODÓ - Bem, vamos retornar pela Praça da Democracia, são uns 10 minutos de caminhada. É meu xodó aqui em Assunção, por ela transitei em quase todos os meus 34 dias paraguaios, breve ela será parte de minhas lembranças. Apareceu em meu blog desde a primeira matéria daqui. Aliás, disse no blog Pilha Pura e repito aqui: falei que a Praça da Democracia não é uma, são três: além da própria, há a dos Herois e a Juan E. O’Leary. Errei, são quatro: tem ainda a Plaza de la Libertad.

Acrescento que na época da ditadura de Stroessner (acabei falando na desgraciada), toda essa enorme área chamava-se Praça dos Herois. Aqui no Lido Bar, em frente ao Panteão dos Herois, eu sempre tomava um café com leite, e ali perto, entrando pela Rua Estrella, está o Bolsi, onde eu costumava tomar uns uísques, dois bares/restaurantes tradicionais, um com 53 anos e outro com 49. (Uso o verbo no passado, porque quando este texto estiver no blog, eu já deverei estar em La Paz, Bolívia).



Casa onde os patriotas conspiravam contra a Espanha


Teatro Municipal

Aproveitamos, amiga, e damos uma olhada rápida no Teatro Municipal e na Casa da Independência (hoje Museu Histórico), onde os patriotas conspiravam contra o domínio espanhol até conquistarem a independência em 1811. É tudo aqui pelo centro. Depois pegamos a Rua Palma, considerada a mais turística da cidade, que emenda com a Rua Mariscal Estigarribia e vai dar na Praça Uruguaia.
MADAME LYNCH, O GRANDE AMOR DO MARECHAL - É um trecho por onde andei quase diariamente. Nele quero te mostrar a “casona” (está assim na placa em espanhol) onde viveu e brilhou Elisa Lynch, uma irlandesa que tem um lugar especial na história do Paraguai: era a companheira do marechal Solano López, que nunca foi casado oficialmente. Para aquela época era um fenômeno e ainda mais se tratando do presidente da República.

Há extensa e controversa literatura sobre a relação dos dois. Se conheceram na Europa, ela com 18 anos separada do marido francês e ele solteiro na faixa dos 30, filho do presidente do Paraguai, Carlos Antonio López, e representante diplomático do seu país na Europa. Não falta quem a considere uma prostituta de luxo, mas prefiro a versão de que se tratou, na verdade, de um grande amor. Era conhecida como Madame Lynch e ditava a moda na sociedade asuncena. Acompanhava o marido/amante quando ele foi morto pelas tropas brasileiras na Guerra do Paraguai (1864-1870). Preservou sua vida gritando na cara dos inimigos sua nacionalidade inglesa.
A "casona" de Madame Lynch

A casa realmente é imensa, hoje funciona nela a Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade Nacional de Assunção (UNA). Temo que a foto que deve estar ilustrando não consiga dar sua verdadeira dimensão. Na rua principal estão 15 portas, dois portões e duas janelas; e na rua lateral, mais um portão e mais 10 janelas. A placa diz: “Esta ‘casona’ pertencia a Elisa Lynch, companheira do Mariscal López. A ela acudiam (freqüentavam) diplomatas, intelectuais e amigos da arte”.

A "chipa", tão popular aqui como o nosso acarajé
“CHIPA” E “SOPA PARAGUAIA” - Agora, amiga, vamos fechando nossa programação. Vamos comer uma “chipa”, custa 2.500 guaranis, o equivalente a um real (é tão popular aqui como o acarajé na Bahia, lembra o joão duro de Seabra, na Chapada Diamantina, interior da Bahia, ou o chimango de Salvador). Em seguida tomamos umas cervejas e podemos almoçar no restaurante a quilo do Mercado El País, aqui pertinho mesmo, na Praça Uruguaia.
Vou te apresentar outra iguaria típica e curiosa daqui: a “sopa paraguaia”. Não tem nada de sopa. É, na verdade, um pedaço de bolo de milho, o gosto é quase o mesmo da nossa pamonha. Dizem que, durante a Guerra do Paraguai, o marechal Solano López queria tomar uma sopa, mas sua cozinheira não sabia preparar. Terminou fazendo o que prefiro chamar de bolo de milho. Acontece, minha amiga, que o marechal comeu e gostou. Então está aí até hoje a “sopa paraguaia”.

Comentários

Joana D'Arck disse…
Belas fotos, boa despedida do Paraguai. Aproveite muito a Bolívia também e venha nos ver aqui, porque estamos com saudade. Bjs.
Jadson disse…
Companheira editora, gracias, muchas gracias, espero aproveitar a Bolívia a partir de amanhã ou depois, porque até hoje estou me curando do tal do "mal da altura ou da montanha". Bem que me avisaram, mas eu com a mania de ex-futuro guerrilheiro, não dei atenção. Não foi moleza, tinha me esquecido como aporrinha uma dor de cabeça.
Grande companheiro...
está partindo paraguay já?
vi as fotos e os comentários, dá para ter uma idéia do lugar sem precisar ir até lá. mas de perto deve ser muito mais bonito.
e os bares daí?
um forte abraço !!!
Jadson disse…
Zoclinho, Jonas, amigo da terra curitibana, prazer grande.
Os bares daqui, La Paz, ainda estão por serem descobertos. Por enquanto, ainda estou me curando do tal "mal da altura", depois irei aos "trabalhos".
Em Assunção, como vc viu, dei um toque no Bolsi, o bar/restaurante onde mais bebi na capital guarani. Mas, na verdade, bebi pouco no Paraguai. Já te disse sobre meus critérios, onde não tenho um companheiro de copo em quem confiar (como foi seu caso em Curitiba), termino por beber pouco. Em terra estrangeira, vc sabe...
Então, não cheguei a ter "um caso de amor", como na capital paranaense com o Stuart.
Abraço, companheiro, "nos vemos", como dizem os cubanos.
Anônimo disse…
Grande Jadson, acessar sem blog é viajar sem tirar o pé do chão, vc. me fez lembrar um período da minha vida de mucheleiro, quando peguei o "trem da morte" em SP e fui atrás de um amor em Santa Cruz Dela Serra, era um grande amor, "tempos de morrer de sustos balas ou vicio" ela militante do PcdoB e estudante de medicina, e eu um militante da esquerda baiana, que bons tempos. dê uma um abração nas bolivianas por mim.
rui baiano Santana

abração.
Jadson disse…
Olá companheiro Rui, bom que retomamos nossos contatos, inclusive por email.
Pois é, nao pude fazer essas aventuras tao ao gosto dos jovens, na época mais propícia, aproveito agora meu resto de mocidade. E graças ao milagre da internet, compartilhando com os amigos.
Abraços.