“O sol nas bancas de revista...”

De La Paz (Bolívia) – “...nos enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia...”





Pois é, grande Caetano Veloso, mas que “sol”?
O cantado e “trescantado” astro-rei, sem o qual a vida fica muito sem graça?
Ou “O Sol”, o primeiro ou um dos primeiros jornais alternativos da rica safra pós-golpe de 1964?

Era do Rio de Janeiro, acho que teve vida efêmera, não cheguei a conhecê-lo, sei que estava vivo quando da execução de Che Guevara nas selvas bolivianas, outubro de 1967. O pessoal do jornal conta, meio como piada, que “O Sol” teve o mérito de não reconhecer a morte do Che. Quando ela foi anunciada, em meio a algumas dúvidas, os editores do jornal optaram (é o tal do “pensamento desejoso”) por uma manchete daquelas em que a gente fica em cima do muro, mais ou menos assim: “Che pode estar vivo”. (Manchete com o verbo “pode” tem variadas serventias, me lembra o nosso Marco Antonio Boaventura Moreira, o Marquinho, mancheteiro de primeira, mas aí são outras histórias).

Dizia eu, que “sol”? Eis a questão que um documentário sobre o dito jornal (dentre outros aspectos) tentou elucidar। O “tentou” vai por conta de uma leitura minha, toda particular। É que toda a parte do filme dedicada a discutir esta questão está dirigida no sentido de demonstrar que “o sol” a que Caetano se refere na música é “O Sol”, o jornal.


Dentre os participantes da discussão, me lembro apenas dos dois mais conhecidos: Caetano e Gilberto Gil. Caetano, com aquele jeitão de iluminado, cheio de vai-e-vem, não dizia claramente nem que sim, nem que não, era como se dissesse “deve ser”, “certamente”... Gil, no seu jeito de santo, de guru oriental, sempre condescendente, chegava a conclusões, a meu ver, sem qualquer evidência aparente, dizia “claro”, “tá vendo aí? é isso mesmo...” Alguém lembrou inclusive que a então namorada de Caetano, Dedé (que veio a ser sua primeira mulher, o nome é este mesmo, não é?), trabalhava no jornal.

Assisti ao documentário em Cuba, não me lembro se durante o Festival de Cinema, dezembro de 2007 (estava lá na época, um dos eventos culturais mais badalados da “ilha”. Deta estava lá comigo nesse período, me lembro que ela assistia a três filmes por dia, toda empolgada. Eu, que nunca fui muito chegado a cinema, via um por dia, achando que já era demais).

Pois bem, conclusão. Saí do cinema com a certeza absoluta, irremovível, que Caetano se referiu, na música, ao nosso sol do dia-a-dia, ao nosso querido astro-rei. Porra nenhuma de “O Sol”, o jornal. Exatamente o contrário da tese “demonstrada” no filme. Racionalmente talvez eu até não consiga explicar o por quê, mas a razão, como sabemos, nem sempre explica tudo.

Comentários

Joana D'Arck disse…
Evidentemente que Caetano falava mesmo do astro-rei. Não assisti ao documentário, mas duvido que o mano Caetano tenha pensado em outra coisa, porque o cara é preguiçoso mesmo (sem querer ofender), não gosta de acordar cedo e o sol deve cegar seus olhos quando faz isso, porque é público e notório que ele é um típico notívago. Então, acho que combina mais. E vamos combinar: ele tem toda razão. Sinto a mesma sensação ao ver uma banca logo cedinho, uma mistura de alegria e preguiça. Genial. É por essas e outras que sou fã do cara, um poeta da porra! Amei a homenagem Jadson.
Zé Paraiba disse…
Jadson,
A grande capacidade do Caetano de compor lindas músicas é inegável. Mas nunca o vi com vontade e coragem para a contestação. Suas posições foram sempre dúbias com relação ao que acontecia na época d'"O Sol". Quem sabe, a música de Caetano não tenha sido uma de suas sacadas oportunistas e que hoje permite questionar se ele se referia ao sol ou a"O Sol".
Zeparaiba
Este comentário foi removido pelo autor.
Alô Jadson, em uma palestra que assistir com Zuenir Ventura que fazia parte da equipe do Jornal o “Sol”, ele falou que a musica do nosso conterâneo Caetano Veloso, se referia ao jornal.
abraços
Este comentário foi removido pelo autor.
desculpe-me companheiro a maozinha hj. está nervosa delete ai uns dois.
abraços
Joana D'Arck disse…
E já viu a última de Caetano? Deu pra falar mal do presidente Lula e mostrou enorme preconceito dizendo que ele não sabe falar. Bobagens do poeta. Prefiro ele compondo e cantando.

Olha só o que o ele falou, segundo o site Terra Magazini:

"Aos 67 anos, o compositor Caetano Veloso concedeu uma longa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo onde chamou o presidente Lula de analfabeto e declarou seu voto à senadora Marina Silva. "Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, cabocla e inteligente como o Obama. Não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem", disse ele ao jornal paulista.

No melhor estilo baiano do "morde e assopra", depois de chamar Lula de tacanho, Caetano elogiou a atuação dele como presidente e ponderou citando o atual governador de São Paulo, José Serra. "O Serra foi um excelente ministro da Saúde. Agora, ele é o tipo do cara que, se tivesse ganho no lugar de Lula, em 2002, teria trazido mais problemas à economia brasileira. Ele teria feito um governo mais à esquerda e a economia talvez tivesse problemas, que hoje não está tendo, porque o Lula faz a economia de direita. O Lula foi mais realista que o rei. Foi bom. A economia deslanchou." E arrematou dizendo: "Ter tido Fernando Henrique e Lula em seguida é um luxo. Saíram melhor que a encomenda, ambos."

Peguntado sobre aspectos da lei de incentivo à cultura, conhecida como Lei Rouanet, que promove o patrocínio de produções artísticas através de renúncia fiscal, Caetano tentou se esquivar ao declarar que se sentia inábil para analisá-la. "Não sou muito bom nesse negócio. Sou como umas moças que eram bonitas, apareciam nuas nos filmes e tinham de ter uma opinião política. Eu sou assim. Não sei se tem que mudar (as regras da lei). Mas repito: sou como aquelas moças. Não estudei direito."
Jadson disse…
O linguista Marcos Bagno, falando das pretensões do Caetano Veloso num artigo na revista Caros Amigos, disse que ele é um bom compositor e cantor, mas o diabo é que ele quer ser também sociólogo, pensador político, psicólogo, linguista, etc, etc, etc (tô citando de memória, mas é mais ou menos isso).
O rapaz, hoje um senhor (da minha geração), quando abre a boca pra falar de política, é um vexame.
Vamos dizer que, fora da sua área, o rapaz se transforma num parlapatão - fanfarrão, impostor.
Unknown disse…
Depois de tanto tempo posto um comentário, só que reproduzindo o trecho de uma matéria publicada em novembro de 2007, de Ruy Castro na coluna "Opinião":

"Caetano foi delicado em insistir que não se lembrava. Mas as datas estão aí. Quando "Alegria, Alegria" foi lançada no Festival da Record daquele ano, a 14 de outubro, "O Sol" já estava nas bancas desde 21 de setembro. Só que a data final de inscrição das canções fora 26 de julho e, nesse dia, "O Sol" era no máximo um lampejo nos olhos azuis de Reynaldo. A citação seria ilustre, mas "O Sol" não precisa dela."

Ou seja, o "Sol" jornal nunca precisou da citação que eu também acreditava havia sido feita por Caetano. E, se a tivesse, teria se desmanchado depois de um monte de bobagens que proferiu.