GREVE DOS BANCÁRIOS JÁ É A MAIOR DOS ÚLTIMOS 20 ANOS


A assembleia que aprovou o início da paralisação na Bahia, realizada no Ginásio de
Esportes dos bancários (Foto: João Ubaldo)
De Salvador (Bahia) – Em meio à intransigência dos banqueiros e do governo federal, a greve dos bancários vem crescendo dia-a-dia e já é a maior dos últimos 20 anos, em termos de adesão: de acordo com o balanço desta segunda-feira, dia 10 - 14º. dia de paralisação -, 9.090 agências (num universo em torno de 20 mil) estavam fechadas em todo o país, somente funcionando, em quase todas, os serviços de auto-atendimento. No ano passado, no pico do movimento, foram fechadas 8.278 agências. Pelo andar da carruagem, será também a mais longa: a de 2010 durou 15 dias.


Os dados foram divulgados pelo presidente do sindicato da Bahia, Euclides Fagundes, baseado no levantamento centralizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Apesar do fortalecimento da greve, ele informou que os patrões, pelo menos até o dia 10, não deram o menor sinal de retorno às negociações, mesmo diante do pedido formal neste sentido da parte do Comando Nacional dos Bancários.


Euclides Fagundes atribui a força do movimento, dentre outras razões, à super-exploração
dos empregados, com as famigeradas "metas" (Foto: Jadson Oliveira)
E mais um agravante: a posição dos banqueiros foi reforçada pelo governo, já que os dirigentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal vêm também se negando a negociar e endurecendo o jogo contra os grevistas, num claro desrespeito ao direito constitucional de greve, conforme avaliação do dirigente sindical baiano. O comando nacional do movimento se reuniu ontem, dia 11, em São Paulo, mas não se viu nenhuma perspectiva para se romper o impasse. A principal reivindicação dos trabalhadores é 12,8% de reajuste salarial (5% de ganho real, além da inflação), enquanto a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) oferece 8% (0,56% de aumento real).


Euclides divulgou, com mais detalhamento, os números que mostram a força do movimento na Bahia, não só nos bancos oficiais mas também nos privados: das 250 agências existentes em Salvador, 224 tinham os serviços suspensos na segunda, dia 10; e das 850 de todo o estado, 696 estavam paradas. Segundo frisou, tais números vêm crescendo diariamente: é bastante observar que no dia 27/setembro, 1º. dia de greve, foram fechadas apenas 370 agências, cerca da metade das que estão paradas atualmente.


Detalhando nos bancos maiores na Bahia: Banco do Brasil – fechadas em Salvador todas as 60 agências e, em todo o estado, 316; Caixa Econômica – 39 e 98; Bradesco – 38 e 100; Itaú – 45 e 73; HSBC – 8 e 18; e Santander – todas as 25 da capital e 40 no estado.


A que você atribui a força da greve na Bahia?


O presidente do sindicato baiano responde: à super-exploração dos bancários, especialmente com as famigeradas “metas” de produção, uma espécie de torniquete que vai apertando sempre mais, pois quando ela é cumprida, vem outra sempre maior; ao fato da condução do movimento nacional, ao contrário de anos anteriores, ter menos divergências, ser mais unificado (explica-se: a orientação política predominante na direção da categoria na Bahia é do PC do B, filiação à Central dos Trabalhadores do Brasil/CTB, enquanto a maior influência a nível nacional é da CUT/PT. Então, segundo entendem os dirigentes baianos, os petistas tinham dificuldade em adotar posições mais firmes em decorrência de suas ligações com o governo Lula - este assunto será retomado mais abaixo).


Todas as 60 agências do Banco do Brasil em Salvador estão fechadas (Foto: Manoel Porto)
Euclides atribui o crescimento da adesão também à preparação prévia: mais de 160 manifestações nas agências, com encenação teatral e animação de bandinhas, discutindo as principais bandeiras de luta; o trabalho de comunicação de massa através de programa diário de TV e do jornal “O Bancário” (segundo ele, é o único sindicato da categoria no Brasil que edita um jornal diariamente há muitos anos); a busca de envolvimento do pessoal dos bancos privados na campanha; e a discussão de temas que interessam diretamente à população, como a necessidade de melhoria da segurança e do atendimento aos clientes, a exemplo da pressão para que seja cumprida a exigência de que a pessoa fique na fila, no máximo, 15 minutos, conforme lei municipal.


Vê também nos super-lucros dos patrões mais um motivo de indignação dos empregados: os bancos lucraram 27,4 bilhões de reais no primeiro semestre deste ano, mais de 20% em relação ao primeiro semestre de 2010. E aponta mais uma influência positiva para o movimento: a vigência de ares mais democráticos na Bahia, isto é, menos repressão policial, com a derrubada do “reinado” do velho cacique ACM (Antonio Carlos Magalhães) pelo atual governador petista Jaques Wagner.


Por falar em “ares democráticos”, o que você acha da tentativa de utilização do “interdito proibitório”?


(Trata-se de um instrumento judicial, através do qual o banco alega que a ação do piquete, mesmo de forma pacífica, constitui uma invasão de sua propriedade, o que na prática contribui para anular o direito de greve. Na Bahia, durante esta paralisação, dois interditos foram concedidos a pedido do Banco do Brasil e do Bradesco, mas ambos foram cassados pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT). No caso do Bradesco, o desembargador Renato Mário Simões explicou que os bancos usam os interditos sem que haja qualquer ato ou lesão ao patrimônio das empresas, com o intuito de impedir a eficácia da greve).


Everaldo Augusto: interdito proibitório é um dos entulhos
autoritários herdados da ditadura (Foto: Jadson Oliveira)
Quem responde é Everaldo Augusto, ex-vereador de Salvador pelo PC do B e atualmente compondo a direção da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe: ele destaca o caráter truculento da medida e a classifica simplesmente como mais um “entulho autoritário” herdado da ditadura militar (1964-1985). E cita outros “entulhos” que ainda estão aí para infernizar a atuação dos trabalhadores e sindicalistas: abusividade da greve, ausência de direito formal de negociação para servidores públicos, serviços essenciais durante a greve, dissídio jurídico e poder normativo da Justiça do Trabalho.


Everaldo, vocês do PC do B também estão na base aliada do governo Dilma, em situação semelhante à do PT. Então, como é que se posicionam diante da intransigência do governo federal, tanto no caso dos bancários, como no dos empregados dos Correios, em greve há quase um mês?


- Nós atuamos preservando o princípio da autonomia do movimento social perante o governo. Por mais identidades que existam, são dois espaços diferentes, são duas lógicas diferentes. Pode haver alguma identidade mais geral, mas isso não pode sobrepor à autonomia inerente ao movimento sindical e isso quem decide, em última instância, são os fóruns das entidades dos trabalhadores. O que acontece é que às vezes o PT abre mão disso em nome de uma pretensa governabilidade.

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