PELO OESTE BAIANO, NO RASTRO DO FILME QUE CONTA A CAÇADA E MORTE DE LAMARCA E ZEQUINHA NO SERTÃO DA BAHIA


Reizinho, logo após a exibição de seu filme, destaca em breves palavras a importância do
 resgate da memória e da verdade (Fotos: Jadson Oliveira)
A dupla Darlei e Jotinha classificada em primeiro lugar no festival; no meio o prefeito
Zito Barbosa
– E então, jovem, vamos pra São Desidério com a gente.


- Se o convite é pra valer, eu topo, vamos lá!


Assim de repente, sem cuidados e preparativos, da mesa do bar, lá das bandas da antiga região da Rua da Palha, em Seabra, na Chapada Diamantina, a 460 quilômetros de Salvador, para as proximidades de Barreiras, no Oeste baiano, a mais de 400 quilômetros dali. Estávamos tomando umas “cervejinhas” após a exibição em praça pública do documentário “Do Buriti à Pintada – Lamarca e Zequinha na Bahia”, de Reizinho Pereira dos Santos. Era a madrugada de sexta pra sábado, dia 29. Fechamos as comemorações com boas e belas companhias.


Do bar para o ônibus. Umas 9 horas da manhã estávamos chegando a Barreiras: este repórter/blogueiro, o diretor do filme e o grande parceiro Adriano Casanova, o “Jack”, cantor e músico. “Três jovens, um de 20, outro de 40 e outro de 60 anos”, dizia o irreverente Reizinho. Daí um pulo até a cidade onde o filme seria exibido à noite durante o festival de música “São Desidério canta e encanta 2011”, patrocínio da prefeitura governada por Zito Barbosa, do PMDB.


O festival, que já havia começado desde a noite anterior, sexta-feira, foi animadíssimo. No sábado, concorreram os cinco finalistas, com direito à torcida, gritos e incentivos da plateia – em torno de 800 pessoas chegaram a agitar a praça central (Praça Abelardo Alencar). Em primeiro lugar ficou a música “Ela só tinha 14 anos”, apresentada pela dupla Darlei e Jotinha. Houve outras atrações como o aplaudido show da cantora Mariana Macedo, vencedora do festival de música/2011 de Ibotirama, cidade da beira do Rio São Francisco, a 650 quilômetros de Salvador, que parece ter uma forte influência cultural na região: são de lá, por exemplo, Reizinho, Adriano, alguns dos jurados do festival de São Desidério e Diva Bonfim, da coordenação do evento.


Membros do júri: Deodato Alcântara (de Brotas de Macaúbas), Carlos Araújo (de Ibotirama),
Reginaldo Belo (de Ibotirama), Gelson Vieira e Joilson Melo (de Ibotirama)
Lana Seixas e Ramon Sousa, da "Companhia Teatrando", de Barreiras
Vista parcial da Praça Abelardo Alencar, preparada para o festival de música
“Dançando na Chuva”


Outra bela atração foi a encenação dos jovens Ramon Sousa e Lana Seixas, da “Companhia Teatrando”, de Barreiras. E para fechar a noite o espetáculo que podemos batizar de “Dançando na Chuva”. Pena que uns 90% da assistência já tinham ido embora. Os poucos que ficaram, incluindo o que eu chamaria de “a turma do Reizinho”, eu inclusive, caímos na dança. Pois é, começou a chover justamente na hora do som da banda “Gerações”, que foi deveras contagiante. (Antes deste texto, portanto aí abaixo, estão postados quatro vídeos, mostrando o sucesso do baile na chuva e outros destaques do festival).


O documentário passa por um teste difícil


O documentário sobre Lamarca e Zequinha foi exibido logo no início, quando havia umas 300 pessoas pela praça. Foi um teste difícil para o filme, pois, ao contrário do ocorrido em outras cidades, como Seabra por exemplo (matéria postada na sexta, dia 4), o público do festival de música, em princípio, não seria o mais predisposto a ser atraído pelo tema. Além disso, a caçada e assassinato do capitão Carlos Lamarca e de seu companheiro Zequinha (José Campos Barreto) ocorreram há 40 anos no semi-árido do município de Brotas de Macaúbas, uma região bem diferente do Oeste baiano, área dominada pelo agronegócio de grandes empresas transnacionais, exportadora de grãos. (Há poucos dias, São Desidério foi destaque no Jornal Nacional da Rede Globo como o município brasileiro de maior produção agrícola do país, com destaque para a soja e o algodão).


Mas, de qualquer forma, creio que o filme se saiu bem na prova. Uns 40% dos presentes acompanharam com atenção a narração e os depoimentos sobre a morte dos dois lutadores contra a ditadura militar, hoje reconhecidos como heróis do povo brasileiro, embora o resgate de tais fatos históricos ainda esteja restrito a uma parcela bem diminuta da população. No final da exibição praticamente não houve palmas, como tem acontecido em outras cidades. Somente alguns poucos aplaudiram. O próprio Reizinho comentou sobre as circunstâncias especiais da apresentação e, por isso, considerou bem positiva a receptividade.


O nosso belo Rio São Francisco em Ibotirama
Bem, a “ressaca” do festival foi na viagem de volta por Barreiras – uns de automóvel e outros de ônibus –, já incorporando outros integrantes da “expedição” que estavam em São Desidério desde o primeiro dia do evento. E, melhor ainda, em Ibotirama, onde a “programação” foi encerrada com um banho nas águas barrentas do Velho Chico.

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