COMO AFIRMAR QUE O GOVERNO DO PT É DE ESQUERDA?


Edmilson: "Alguém que ainda tenha um cérebro capaz de
 raciocinar pode afirmar que o PT, Dilma Rousseff, Lula,
o governo de hoje são de esquerda?"
ANEXO 1 da entrevista exclusiva concedida a este blog por Edmilson Carvalho, professor de Economia Política e velho militante da esquerda, e postada aqui em 21/11/2011 com o título “O marxismo de Marx e Engels nunca existiu para o proletariado brasileiro”. O título acima é de autoria deste blog. Diante da pergunta: “Partido ‘de esquerda’ e partido ‘revolucionário’ seriam a mesma coisa?”, ele escreveu o texto abaixo:


Como sempre fazemos, começaremos pelas questões de princípio.


Como a burguesia deixou de necessitar de dar combate a classes reacionárias, como a classe dos senhores feudais e, em algumas experiências coloniais, algumas burguesias nacionais, que, por circunstâncias locais (nacionais), tiveram de ir às vias de fato com os grandes latifundiários, era lícito falar-se de revoluções levadas a termo pela burguesia, porque em tais épocas ou conjunturas, a burguesia podia encarnar as forças sociais do progresso.


Na França, sob a bandeira da Revolução, por exemplo, a burguesia contou com o apoio das massas proletárias para liquidar com a força dos senhores feudais e instaurar seu Poder, daí resultando que a burguesia levantou muitas forças sociais que estavam adormecidas, como a ala nacional e internacional mais radical da democracia, a nata dos jacobinos (Robespierre, Danton, Saint Just e muitos outros), que faziam parte do team burguês que encampou a bandeira da Revolução. Num tal contexto, ser de esquerda e revolucionária era uma só e mesma coisa - e a burguesia ostentava esse duplo mérito.


Mas tudo isso já é coisa do passado. Uma vez consolidado o Poder, a burguesia, para garantir a posse e garantir a exploração de classe, tornou-se a classe mais conservadora da História - nesse sentido não conheceu e nem reconheceu limites: foi da repressão de rua, de fábricas e de rotina, chegando a substituir bandeiras como as reunidas na maior síntese conhecida até a sua maior dos tempos de revolução - a célebre trilogia Liberté, Igalité et Fraternité - por uma outra linguagem mais atualizada, a linguagem do terror, da tortura, do assassinato puro e simples. Se este era o contexto no qual se podia falar de revolução, hoje este privilégio só cabe e só pode caber ao proletariado, que é a única classe que só tem a ganhar com uma revolução. Só a classe operária, que pode contar com uma pletora de intelectuais a seu serviço, pode se dar ao luxo de manter intelectuais, os quais devem dar respostas científicas a tarefas e problemas complexos que haverão de surgir de tão grande empreendimento social e político.


E aqui também só o operário como classe pode encampar a revolução socialista. Só a ele é possível - em face do lugar que ocupa na produção -, manter uma tal proposta e em torno dela galvanizar todas as forças sociais - trabalhadores desempregados, desempregados crônicos, camponeses (a sobra deles), amplos segmentos sociais declassés, isto é, ser posta uma situação na qual essas forças sociais desgastadas para que ao dividir com ela, a classe operária, não só o ônus como os benefícios da revolução.


Como tomamos por pressuposto que ser de esquerda é encampar uma revolução, ou por outra, como ser de esquerda é ser revolucionário, inferimos que a única classe que efetivamente é de esquerda e revolucionária é a classe operária. E como posições individuais nem sempre combinam com situações gerais, pode acontecer que indivíduos pertencentes a outras classes, nomeadamente a pequena burguesia, muitas pessoas de fora da classe operária, portanto, podem ligar-se a ela nos caminhos estratégicos e de tática geral.


Há outro caso, o dos camponeses: eles não carregam consigo o emblema da classe operária. Eles são, num princípio, pouco mobilizáveis para a revolução, porém nos estágios agudos da luta de classes, eles podem vir a constituir um dos pilares da aliança em torno da classe operária de importância decisiva, situação muito distinta da que os considera como uma classe que, não sendo operária, vão construir - pasmem!! - a ditadura de classe do proletariado - o que é uma aporia nos termos.


Como, contudo, existe muita gente que se aproveita das ambiguidades da vida para se promover, precisamente este termo - o emblema da esquerda - sempre tem seus adeptos. Com efeito, como é sempre possível você estar ao lado de alguém à sua direita e aí, por dedução, quem não é radicalmente de direita acha-se no direito de afirmar-se como pessoa de esquerda, o mesmo acontecendo com partidos, etc. Assim, diz-se que um partido, governo ou algumas celebridades ligadas a estas instituições, agentes de uma proposta social-democrata, são elementos de esquerda, ainda que - e qualquer semelhança não é mera coincidência -, sejam pessoas que efetivamente governam para a burguesia e cujo desempenho à frente do Estado garanta, só para citar um só exemplo, que os banqueiros vivam num mar de rosas.


Alguém que ainda tenha um cérebro capaz de raciocinar pode afirmar que o PT, Dilma Rousseff, Lula, o governo de hoje são de esquerda? O que fizeram para merecer tão destacada placa? Manipular a consciência de massas humanas com a clara intenção de manter essas massas humanas nessa pasmaceira e para poder passar por um governo popular é mesmo uma atitude de esquerda?

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