DENÚNCIA DE SUBORNO: OPOSIÇÃO VENEZUELANA SOFRE MAIS DESGASTE




Apanhado num vídeo recebendo dinheiro, Caldera teve um dia de cão: foi suspenso do partido e expulso do comando da campanha oposicionista (Foto: vtv.gob.ve)
De Caracas - Denúncia de suposto suborno recebido pelo deputado federal oposicionista Juan Carlos Caldera agitou nesta quinta-feira, dia 13, a eleição presidencial da Venezuela. Deputados chavistas da Assembleia (Congresso) Nacional apresentaram um vídeo (link abaixo) onde aparece o parlamentar recebendo dinheiro (bolívares, moeda venezuelana) de uma pessoa não identificada, com quem conversa sobre a possibilidade de um encontro fora do país com o candidato a presidente da oposição, Henrique Capriles Radonski (chega a se mencionar o Brasil). "Diga ao chefe que a tarefa não está feita, mas vamos no caminho para conseguir", diz Caldera no vídeo.

É mais um desgaste para a campanha da direita, que nos últimos dias, além de aparecer sempre em desvantagem nas pesquisas de opinião, foi abalada pelas revelações sobre o seu até há pouco “clandestino” programa de governo neoliberal, o que resultou inclusive em algumas defecções entre seus aliados (este blog publicou a respeito, dia 11: “O fantasma do ‘Caracazo’ agita a eleição venezuelana”).

Conforme informações veiculadas nos sítios da TV Telesur e do portal Aporrea.org (ambos são afinados com o chavismo), o deputado federal Julio Chávez, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, principal partido de sustentação do presidente Hugo Chávez), explicou que se trata de "um suborno por parte de uma pessoa que não está no país" e que "vincula de maneira direta a Capriles Radonsky. Se propõe que a oposição possa se reunir fora do país por questões de segurança para assim falar de maneira aberta sobre vários temas".

Ao fazer a denúncia, Julio Chávez atiçou a gravidade do episódio comentando que parecia que “estes fundos foram para se cumprir uma tarefa e que ainda não está concluída. Será que estes fundos ou recursos estão destinados à desestabilização no país?", se perguntou, reforçando as constantes suspeitas dos chavistas quanto ao chamado “plano B” da direita, dentro da visão de que eleitoralmente a oposição não tem chance.
Julio Chávez fez a denúncia e se perguntou: "Será que estes recursos estão destinados à desestabilização no país?" (Foto: Aporrea.org)
O noticiário contido nos dois sítios da Internet indica que eram bem estreitas as ligações de Caldera com Capriles. São do mesmo partido – o Primeiro Justiça, que já anunciou sua suspensão e abertura de inquérito – e o parlamentar, até estourar a denúncia, era membro do comando da campanha oposicionista, representando-o junto ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao  TSE brasileiro). Caldera, pelo menos até esta quinta, era considerado candidato a prefeito de Sucre, um dos cinco municípios que compõem a cidade de Caracas (é governado pela oposição; as eleições municipais serão em abril/2013, depois da presidencial em 7 de outubro e das estaduais em dezembro).

Deputado nega suborno e confirma autenticidade do vídeo

O deputado negou se tratar de suborno, confirmou a autenticidade do vídeo, deu suas explicações e se colocou à disposição para quaisquer investigações: contou que recebeu mais de 9 mil dólares em algumas parcelas (duas delas estão registradas nas duas partes do vídeo divulgado), mas garantiu que são destinados à sua campanha para a prefeitura de Sucre e não à campanha de Capriles, embora, contraditoriamente, tenha declarado que a prioridade no momento era a campanha presidencial.

Relatou que o vídeo mostra uma reunião que manteve com o senhor Luis Peña, representante do empresário venezuelano Wilmer Ruperti, fundador e presidente da companhia de navegação Global Ship Management, que, segundo o deputado, ofereceu apoio financeiro à sua candidatura. ''O senhor Ruperti me disse que queria me ajudar e como viajava muito me pôs em contato com o senhor Luis Peña”, disse. Detalhou que uma parte da filmagem mostra ele recebendo 20 mil bolívares (4 mil e 100 dólares) e a outra parte, correspondente à terceira reunião que os dois tiveram, registra a entrega de mais 20 mil bolívares.

Para Caldera, teria sido uma armação para prejudicar a candidatura de Capriles. Disse que lamenta admitir que fez o papel de "ingênuo". Afirmou que foi pelas mãos de outro deputado da chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD – articulação dos partidos da oposição), de nome Eleodoro Quintero, que conhecia Ruperti, e por isso pensou que "era um ato sincero".

Segundo o Aporrea.org, durante a coletiva de imprensa houve, porém, uma pergunta que ele não respondeu: uma jornalista questionou: "E qual foi o destino final desse dinheiro, deputado?". A resposta de Caldera foi categórica: "Outra pergunta, por favor".
Capriles: além de estar sempre atrás nas pesquisas, sua campanha vem sofrendo desgastes nos últimos dias (Foto: da Internet)
Candidato se apressa em anunciar a expulsão

Enquanto os deputados do PSUV encaminhavam pedidos de investigação nos diversos organismos do aparato do Estado – a Assembleia Nacional já anunciou sua decisão de apurar o caso -, Henrique Capriles se apressou, na mesma quinta-feira, em condenar o comportamento de Caldera e expulsá-lo da sua campanha.

“Juan Carlos Caldera fica fora deste projecto. (...) Ninguém tem o direito de utilizar meu nome para buscar benefícios políticos. Fica excluído da campanha política, fica excluído também como representante nosso perante o Conselho Nacional Eleitoral. Nos colocamos às ordens das autoridades para que abram uma investigação”, afirmou Capriles.

(Link para quem quiser ver o vídeo É tudo em espanhol, está muito ruim, mas no final dá bem para ver o deputado pegando o dinheriro)

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