PODER DA MÍDIA: NOSSO GOVERNO É UM GOVERNO RENDIDO




Carta ao velho e querido companheiro de luta Militão, também conhecido por Geraldo Guedes, advogado de Brumado-Bahia:

De Caracas (Venezuela) - Companheiro, está postado aí abaixo o esclarecedor artigo que você me enviou tão diligentemente, como sempre faz, aliás. De Miguel do Rosário, do blog O Cafezinho, mostrando a dinheirama canalizada pelo governo para a TV Globo, Grupo Abril, que edita a Veja, Folha de S.Paulo & Cia, os poucos de sempre (o diabo – que não serve como consolo – é que já foi até pior: a partir de Lula o governo botou na fita milhares de pequenos meios de comunicação desse interiorzão brasileiro, claro, uma merreca em relação a Globo & Cia).

É uma realidade difícil de engolir: nosso governo Lula/Dilma/PT não tem valentia para enfrentar a chamada grande imprensa, os monopólios da velha mídia privada, o partido forte da direita no Brasil (PIG – Partido da Imprensa Golpista, como se diz na nossa blogosfera), braço midiático do império estadunidense (presumo que o governo não se ache com força para tal, e parece mesmo não ter força para tal, já que não ousa começar um trabalho de mobilização do povo para defender os interesses do povo. Faz até o contrário: desmobiliza o povo. Mobilização popular para a maioria dos nossos líderes petistas significa, apenasmente, votar de dois em dois anos. Nisso, nosso governo está na contramão do que fazem governos aliados na América Latina, como os da Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua).

Nesse aspecto, vejo nosso governo rendido diante das pressões/chantagens dos donos da grande/velha mídia, uma pilastra fortíssima do verdadeiro poder no Brasil (outros setores que participam do complicado jogo do poder, muitas vezes subterrâneo, seriam os banqueiros e corporações empresariais aliadas, incluindo aí o latifúndio/agronegócio, as Forças Armadas continuam nesse seleto “clube”, o Judiciário, a Presidência da República e o Congresso Nacional, esqueci alguma pilastra? Me socorra, por favor, professor Fábio Konder  Comparato. Uma vez assisti a uma palestra dele em São Paulo sobre isso, achei bem didático: dizia que o presidente da República não é “o poder”, é um intermediário, que pode influir mais, ou menos, que pode ajudar a ascender uma classe, ou baixar, no jogo do poder, falava de Lula, de Getúlio Vargas... muito interessante. Ah, não esquecer: atrás, na frente, nos lados, está o poder das empresas transnacionais e do Pentágono, o império dos Estados Unidos, hoje um pouquinho baqueado com a crise do capitalismo, mas ainda poderosíssimo).

Um governo rendido, acho que é a expressão perfeita. Paga para apanhar: toda noite no Jornal Nacional, toda semana na revista Veja, todo dia na Folha, Estadão e O Globo, toda hora nos sítios/sites desses veículos. Paga 68 milhões de reais à Globo para ser surrado pela Globo durante um ano e meio. Chama ditadura midiática de democracia/liberdade de imprensa. Uma sugestão ao nosso governo, de graça: mande uma comissão estudar e entender como Cristina Kirchner enfrenta o monopólio do grupo Clarín na Argentina ou como nosso destemido (e caluniado) Hugo Chávez enfrenta a artilharia pesadíssima das TVs, rádios e jornais privados na Venezuela. Repito: são governos aliados.

No Brasil já vi direitista bater no peito e dizer: independente é a Veja que não recebe dinheiro de publicidade do governo. Mentira, dê uma olhada aí na pesquisa de O Cafezinho, sem contar os rios de dinheiro que o Ministério da Educação e estados como São Paulo pagam à editora Abril. Há uns seis meses, em “Salvador de Bahia”, como dizem por aqui, numa clínica médica, peguei uma Veja e estava lá nas páginas um bocado de anúncios do governo federal: ministérios, Banco do Brasil, Petrobrás, etc.

No Brasil já vi ter peito para enfrentar a imprensa o governador de então Roberto Requião, nacionalista bom de briga, metido nessa mixórdia chamada PMDB. Passei uma temporada de seis meses em Curitiba em 2009. O governo dele não anunciava na considerada grande imprensa local, eram rompidos, adversários. Requião se virava no sítio da web/internet do governo estadual e utilizava muito a TV Educativa do estado, onde, inclusive, dava um espaço considerável aos movimentos de esquerda, incluindo os da esquerda radical. Beto Almeida, da TV Cidade Livre de Brasília e da TV Telesur (emissora multi-estatal da América Latina com sede na Venezuela), apresentava na época um programa de debates na Educativa bem progressista (deve ter parado depois que os tucanos entraram no governo). O noticiário da Telesur era reproduzido na TV estadual.

Comparando: a TV Brasil, estatal, recebida a pau e pedra pelos barões da mídia, é, politicamente, de uma timidez inacreditável. Nem os telejornais da Telesur ela reproduz. Pelo pouco que acompanho, creio que as agências de notícias com as quais trabalha são as mesmas da imprensona da direita. Se ela usasse, por exemplo, uma agência como a Prensa Latina, além da Telesur, poderia furar um pouco o avassalador pensamento único da Globo & Cia (aliás, para tentar ser justo, a TV Record volta e meia vem rompendo um pouco esse samba de uma nota só na TV brasileira; os comentários de Bob Fernandes na TV Gazeta também; a TV Cultura, de São Paulo, fazia um trabalho razoável, mas foi destroçada pelos tucanos que vieram depois de Mário Covas). Para registrar algo bom da TV Brasil: reportagens especiais, documentários e filmes, além de cortar aqueles boletins policiais ensangüentados e excrescências tipo Datene & Cia.

Tivemos ainda no Brasil o caso muito especial do bravo nacionalista Leonel Brizola, cuja exitosa vida política (foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, duas vezes) desenrolou-se em aberto desafio à Rede Globo, que fez o diabo para obstaculizar sua carreira (talvez por isso nosso Brizolão não tenha chegado à Presidência da República, para prejuízo do Brasil e dos brasileiros).

Companheiro, falando de Brizola me lembrei: o fato de Lula, no apagar dos dias de presidente, ter concedido entrevista coletiva aos blogueiros chamados progressistas (ou “sujos”, como os apelidou o tucano decadente José Serra), foi considerada uma atitude de coragem, já que a poderosa velha mídia odeia tais blogueiros (repare bem como nossos políticos vivem sob a eterna chantagem da mídia!). O deputado Brizola Neto, agora ministro do Trabalho, que parece seguir os bons exemplos do avô, chegou a comentar com os mesmos blogueiros, que especulavam sobre a possibilidade de Dilma dar também entrevista a eles: Lula deu entrevista aos blogueiros, mas Dilma fez mais do que isto: chamou um dos blogueiros para ser seu ministro (sem aspas, porque estou citando de memória). Brizola Neto, antes de se tornar ministro, mantinha o Tijolaço, um blog de muito sucesso.

Bem que poderíamos instituir um troféu chamado “Quem não tem medo da Globo?” O patrono honorário seria Brizolão, mas iria ser muito difícil encontrar um político disposto a recebê-lo. Como demonstração, lembremos o espetáculo vexatório da não convocação de representantes da Veja para depor na CPMI do Cachoeira, apesar do empenho de alguns parlamentares petistas e do senador Collor de Mello (que maluquice! dono da TV repetidora da Globo em Alagoas). O cupincha-mor da mídia na CPMI foi o deputado Miro Teixeira (que trágico! do PDT, partido criado por Brizola).

E por falar em governo rendido, li neste sábado, dia 15, no portal Vermelho, que nossa presidenta Dilma Rousseff cancelou um almoço com Roberto Civita, dono da Abril, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se levantou e abandonou uma mesa de encontro patrocinado pela revista Exame (também da Abril), onde estava o mesmo Civita, sem explicar o gesto. Logo as duas atitudes foram atribuídas a uma reação contra a capa da Veja desta semana desancando mais uma vez seus vilões prediletos: Lula e PT. Pensei incontinenti: será tesão de mijo? (desculpe o linguajar chulo, como diria o velho companheiro de redação na Bahia, Adilson Borges).

É coisa para conferir mais à frente. Grande abraço.

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