O CHAVISMO

Por Elías Jaua (foto), ex-vice-presidente e ex-ministro da Agricultura do governo Chávez – traduzido do portal Aporrea.org, de 30/12/2012

Chávez continua em estado delicado após cirurgia a que se submeteu em Cuba em 11/dezembro

Retrato do Libertador Simón Bolívar, conforme reconstituição do rosto feita recentemente

A corrente militar-popular bolivariana que começou a constituir-se como uma força política, sob a liderança do Comandante Hugo Chávez, teve sua origem mais imediata nas rebeliões populares e militares de 1989 (o famoso “Caracazo” de fevereiro/89) e 1992 (tentativas de golpes militares em fevereiro/92 e dezembro/92), respectivamente. Não obstante, a arquitetura do Movimento Bolivariano 200 (MBR 200) nas ruas começou a se formar a partir do ano de 1994, quando Hugo Chávez sai da prisão e começa sua peregrinação social e política por todo o país.

Entre 1994 e 1998, o Comandante Chávez logra juntar estudantes, profissionais liberais, pequenos e médios empresários, camponeses, “cultores”, pescadores, mineiros, indígenas, operários, mulheres, jovens, militares, “dirigentes locales” e a quase totalidade da direção da esquerda venezuelana, sob as bandeiras do resgate do pensamento bolivariano e da convocação duma Assembleia Constituinte para refundar o Estado, recuperar a soberania popular e nacional, assim como transformar a estrutura de exclusão social das grandes maiorias. Inclusive, de maneira oportunista, importantes setores da burguesia brindam apoio à insurgente força política bolivariana.

É assim que em 6 de dezembro de 1998, o Comandante Chávez é eleito Presidente, ativando-se o processo constituinte que permitiria a eleição da Assembleia Nacional Constituinte e a posterior aprovação popular da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, fato inédito em nossa história.

No contexto do processo constituinte, o Presidente da República Hugo Chávez começa a dar passos audazes tais como: o emprego massivo das Forças Armadas para tarefas de proteção social e de desenvolvimento nacional; se lança às ruas a contactar-se com os setores mais humildes e excluídos; interpela os donos dos grandes meios de comunicação privados e passa a usar de forma revolucionária os meios de comunicação públicos; desenvolve uma corajosa política internacional ao estabelecer ligações com Cuba, China, Iraque, Irã e impulsiona um processo de recuperação do peso geopolítico da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), entre outros desafios aos poderes estabelecidos. Todas estas medidas vão configurando uma nova prática política, sustentada no exercício pleno da soberania nacional e da independência do governo da República de qualquer fator de poder interno ou externo; a defesa do protagonismo político do povo; a inclusão social como direito humano, assim como a desmistificação dos poderes de fato (aqueles que nas democracias representativas mandam de fato, mas não se apresentam como tal, como, por exemplo, os latifundiários, os banqueiros).

No ano 2000, depois do processo de refundação dos poderes públicos de acordo com a nova Constituição, aprovada em 1999, o Presidente Hugo Chávez solicita à nova Assembleia (Congresso) Nacional ser habilitado, mecanismo constitucional, para legislar em matéria social e econômica.

Este processo de elaboração e aprovação de leis por parte do Executivo, que buscava cumprir o mandato constitucional de transformar a institucionalidade, o regime econômico e o papel do Estado na economia, somado a uma crescente tensão na área internacional com os Estados Unidos, Colômbia e Espanha, em defesa da nossa soberania e da paz mundial, levariam a uma confrontação com as elites dominantes que desembocaria nos acontecimentos de 2002 (golpe de Estado de 11/maio, revertido em 13/maio, e o locaute petroleiro).

Estes dados históricos procuram somente contextualizar o momento em que aparece o termo “chavista” para identificar a corrente popular bolivariana que havia insurgido no final dos anos 80 e princípios dos anos 90 do século XX. Até o ano 2001, as forças políticas lideradas pelo Comandante Chávez nos identificávamos como “os bolivarianos e as bolivarianas”, poucos compatriotas se definiam como chavistas.

No momento em que as elites dominantes decidiram pôr um fim ao ensaio revolucionário, mostraram toda sua artilharia de ódio social contra o povo pobre que seguia o Comandante Chávez. É assim que, à extensa e histórica lista de qualificativos para criminalizar o povo (chusma, hordas, bandoleiros, vulgares, “tierruos”, malandros, etc) se somaram novos epítetos: “chavista”, no individual, e no coletivo “hordas chavistas” ou “círculos do terror”.

Na realidade era uma intenção de despojar-nos da nossa identidade como bolivarianos, foi um último esforço da oligarquia para manter o termo bolivariano nos arquivos mofados das Academias de História. Mas não só não puderam arrebatar-nos o marcante nome de filhos de Bolívar, como também assumimos o de chavistas e o remarcamos com dignidade.

Recordo uma marcha quando vi, pela primeira vez, a expressão escrita “Sou Chavista e daí!”, num pedaço de cartolina exibido por uma mulher do povo. Foi então que nos fizemos chavistas, que no princípio significava apenas ser seguidores e defensores de Hugo Chávez. E como bolivarianos e chavistas, conquistamos as vitórias contra o golpe, os locautes fascistas de 2002, as “guarimbas” (atos de violência nas ruas) de 2003 e ratificamos nosso Presidente em 2004.

Após consolidar as vitórias populares de 2002, 2003 e 2004, reivindicamos nossa identidade chavista. Recordo que nessa época o Comandante começou a questionar o termo, porque considerava que dava origem a uma corrente personalista contrária aos princípios revolucionários, porém mais adiante se deu conta de que ser chavista transcendia a seu sobrenome.

Ser chavista implica uma conexão afetiva com um líder político que não nos traiu; significa a reivindicação como povo herdeiro dum passado heróico que nos pertence e que se fez presente e futuro; é assumir que ninguém é mais do que ninguém, que todos temos direitos a todos os direitos; é sentir um amor profundo na alma por nossa Pátria e sentir-nos profundamente orgulhosos de ser venezuelanos, venezuelanas, latino-americanos e latino-americanas.

Ser Chavista é saber que o Poder nos pertence como povo e não aos ricaços; é sentir-nos respeitados na nossa diversidade cultural e social. Ser Chavista é ser consciente de que a renda nacional é para todos e todas; é ter a solidariedade humana como um valor supremo. Ser Chavista é sentir-nos parte duma força ética para a vida, para a emancipação dos povos, para a união sul-americana, para o grande, para o belo como nos ensinou nosso Pai Simón Bolívar. Ser Chavista é ser irreverente frente ao poder da dominação. Ser Chavista é pensar e fazer a partir da Esquerda.

É assim que do Bolivarianismo nasceu o Chavismo, que é profundamente Cristão e que logo em seguida se fez Socialista, porque não há outra maneira de professar, genuinamente, os mais altos valores humanos.

Hoje, o Chavismo é uma das maiores forças políticas e sociais da esquerda e de maior impacto no mundo e se converteu numa referência para “os pobres desta terra”. Hoje, o Chavismo é Hugo Chávez e Hugo Chávez é o Chavismo.

Tão grande é o impacto desta nova cultura política, que a direita venezuelana e em outros países tentou apropriar-se, sem êxito, dos códigos e valores do Chavismo. Eles não compreendem que não há Chavismo sem o pensar e a paixão de Chávez pelo povo; que não há Chavismo sem o povo livre, que não há Chavismo sem a opção preferencial pelos pobres, que não há Chavismo sem o Socialismo de verdade.

Por isso e por muitas coisas mais, somos orgulhosamente Chavistas, Socialistas e Bolivarianos. SOMOS O CHAVISMO, UMA FORÇA ALEGRE E REVOLUCIONÁRIA PARA A LIBERTAÇÃO.

Feliz ano novo 2013, ano de grandes desafios para Venezuela, ano bicentenário da proclamação como Libertador da Venezuela, do nosso Pai Simón Bolívar. Viveremos e Venceremos!!

(Deixei algumas palavras entre aspas porque não consegui traduzi-las e fiz alguns esclarecimentos entre parênteses)