OPOSIÇÃO BANCÁRIA/1975: CONSUMA-SE O “VETO” DOS “ÓRGÃOS DE SEGURANÇA” (Parte 3/última)





TESTEMUNHO IMPLACÁVEL DA HISTÓRIA DA PELEGAGEM: uma das posses de Eraldo Paim (foi eleito em 1975 e reeleito em 1978), que aparece aí confraternizando com - da dir. para esq. - Carlos Coqueijo, presidente do TRT-Ba, coronel do Exército Bião Cerqueira, e José Torres, então presidente da Federação dos Bancários. Tudo sob o semblante "inesquecível" do ditador Garrastazu Médici, que emprestava seu nome ao auditório do Sindicato baiano (atualmente, muito apropriadamente, Auditório Mutti de Carvalho, fundador da entidade e herói dos trabalhadores brasileiros). (Foto: do livro "Bancos, Bancários e Movimento Sindical", de Euclides Fagundes, pág. 287).
De Salvador (Bahia) - Vamos à nossa correria final e à consumação do famoso “veto”, um modus operandi que já tinha sido utilizado pelos pelegos e burocratas da ditadura contra os bancários baianos nas eleições sindicais de 1965 e 1968.



Primeiramente nos avisaram, verbalmente, que os tais “órgãos de segurança” vetaram três integrantes da chapa: Corinto Soares Joazeiro (o cabeça, que seria o presidente), eu, Jadson Oliveira, e Bento Antônio Ribeiro (do Baneb, que tinha boa formação e experiência na área administrativa). Corremos pedindo socorro ao advogado Adelmo Oliveira (foto - grande figura humana, poeta, foi depois deputado estadual pela oposição. Não me esqueço, quando lhe agradecemos, ele disse: “Não precisa agradecer, isso são deveres da cidadania”).



Com Adelmo fomos então à Delegacia (hoje Superintendência) Regional do Trabalho e à Polícia Federal, mas nem sequer fomos recebidos. De qualquer forma, oficialmente nada havia contra nossa chapa. Saímos alardeando que estávamos no páreo, era tudo manobra dos pelegos. Tivemos uma boa acolhida no antigo Jornal da Bahia e na Tribuna da Bahia, apesar das restrições à liberdade de imprensa e do medo da repressão (ao contrário de hoje, os jornalistas das redações da época, especialmente nesses dois jornais baianos, eram mais chegados à esquerda e valorizavam a política e a luta pelas liberdades democráticas, já que vivíamos sob uma ditadura sem disfarces). (Veja abaixo o registro fotográfico de algumas das matérias publicadas).



Oficialmente era uma coisa, de fato, de fato, era outra. Três membros da oposição estavam vetados pelos “órgãos de segurança”, repetiam os pelegos, sob a mudez e a surdez dos tais “órgãos de segurança”. Faltavam poucos dias para a votação, marcada para 25/26/27 de junho. Descobrimos que mesmo com os três “vetados”, tínhamos condições legais de concorrer e anunciamos, já no desespero, que iríamos disputar mesmo com a chapa toda descabeçada. Nisso, não me recordo bem alguns detalhes, já não eram somente três os cassados, apareceram mais dois, tudo de boca, nada por escrito: Vivaldo Ornellas e Marília Benício (do Banco Real). Uma loucura!



Já chegando o dia da votação, Torres e seus asseclas aprontaram mais uma, o golpe fatal: nos chamaram ao sindicato e nos apresentaram cartas de renúncia de três companheiros de nossa chapa (presumimos que foram pressionados pelo medo reinante e pelos chefes/patrões). Pronto: legalmente, com oito membros de fora, os representantes da oposição não podiam mais concorrer. Adelmo ainda tentou uma medida liminar, pois a votação já ia começar, mas a Justiça cumpriu seu papel sujo, se fez de muda e cega. Esperneamos um bocado, mas não deu (publico como anexo o manifesto que distribuímos à categoria e que foi divulgado, na íntegra, pela Tribuna da Bahia).

Jornal da Bahia, edição de 27/06/75
Há um argumento interessante do então deputado Clodoaldo Campos, líder do MDB na Assembleia Legislativa, que protestou da tribuna daquela Casa, com apartes solidários de alguns parlamentares oposicionistas, conforme matéria do Jornal da Bahia aqui registrada fotograficamente: ele chama a atenção do aparente absurdo de Vivaldo Ornellas, seu companheiro emedebista, ter concorrido a um mandato (como suplente) no Senado da República e não poder se candidatar a diretor do sindicato de sua categoria.



Bem, restou-nos o orgulho de termos travado o bom combate no tempo em que fomos chamados a combater. E a certeza de que ajudamos a plantar uma sementinha que deu bons frutos em 1978, com a chapa liderada por Edelson, e frutos ainda melhores em 1981, com a vitória – finalmente – da Oposição Bancária em chapa encabeçada por Laranjeira, com a participação de militantes de várias tendências de esquerda e já em tempos da chamada abertura democrática, não tão ampla e de viés popular como sonhamos, mas, de qualquer forma, abertura.

Esta é a última das três partes do relato mais amplo que escrevi sobre a experiência da Oposição Bancária da Bahia, relativa ao período de 1972/1975, do qual participei diretamente. Escrevi instigado a partir dum pequenino texto e depoimento pedidos pela direção do Sindicato dos Bancários da Bahia, no bojo dos preparativos da comemoração dos 80 anos da entidade, cujo evento principal está marcado para esta sexta-feira, dia 22, às 20 horas, no Bahia Café Hall (Avenida Luis Viana Filho, s/n - Paralela). 

A primeira parte foi postada aqui na segunda-feira, dia 18, e a segunda na quarta-feira, dia 20. 
Tribuna da Bahia, edição de 25/06/75
ANEXO 1 - Esclarecimento aos bancários baianos

Íntegra da nota da Oposição Bancária após consumada a cassação da Chapa Verde, conforme transcrição em matéria da Tribuna da Bahia, de 25/06/75, com o título “Bancários elegem nova diretoria: chapa única”.

“Por dever de responsabilidade perante a classe bancária da Bahia e a opinião pública, cumpre-nos comunicar aos companheiros que a Chapa Verde no. 2, registrada para concorrer às eleições do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Estado da Bahia, nos dias 25, 26 e 27 do corrente, foi impedida de participar da competição eleitoral.

Diante de tal impedimento, queremos esclarecer aos colegas de que não deixamos de utilizar todos os recursos disponíveis, desde a iniciativa nossa para um diálogo que nos foi negado, até a alternativa última do Mandado de Segurança, com pedido de Liminar, e tudo isto com o objetivo legítimo de que fosse evitada a consumação da violência.

Assim, foge, por exemplo, à nossa expectativa e entendimento a decisão da autoridade judiciária competente, que se inclinou a negar a concessão da Liminar, não obstante a evidência concreta das provas suficientes para a caracterização técnica do perigo iminente do impedimento arbitrário, restringindo-se o Magistrado, apenas, no seu respeitável despacho, a solicitar informações, de praxe, à autoridade coatora, no caso a Delegacia Regional do Trabalho, dentro do prazo legal de 10 dias. Tal providência judicial tornou inócua a medida requerida, configurando-se a irreparabilidade do direito líquido e certo.

Em conseqüência, não constituiu mais surpresa para os componentes da Chapa Verde a publicação, pela imprensa local, um dia após a denegação da Liminar, de uma nota, subscrita pela presidência do Sindicato dos Bancários, transcrevendo ofício da Delegacia Regional do Trabalho, que comunicava publicamente o impedimento da nossa chapa.

Em face do ato ilegal e arbitrário, emanado da Delegacia Regional do Trabalho, resulta que ele se originou para não só obstaculizar o exercício democrático do voto, bem como dificultar o acesso da oposição sindical aos quadros dirigentes, numa manobra contrária aos propósitos do Presidente da República, no seu tão desejado projeto de distensão política, que inclui entre outras proposições liberalizantes, a efetiva participação dos trabalhadores nas suas entidades de classe.

Mas, companheiros, o que temos sobretudo de lamentar profundamente, em todo o desdobramento deste infeliz episódio, foi o testemunho do comportamento assumido pelos presidentes da Federação e do Sindicato dos Bancários, que se manifestaram solidários ao ato consumado de cassação branca de seus colegas, agindo flagrantemente contra os dispositivos da Lei e, mais ainda, contra a dignidade de toda a classe bancária que se dizem representar.

Resta-nos, finalmente, agradecer aos companheiros e à opinião pública a ampla solidariedade que temos recebido, salientando a firmeza das nossas posições diante de tão grave violência, que atenta contra os direitos e garantias sindicais assegurados pelos povos do mundo livre”.


ANEXO 2 – Registro fotográfico de algumas das matérias publicadas em 1975 pelo antigo Jornal da Bahia e pela Tribuna da Bahia:
Jornal da Bahia, de 15/06/75
Jornal da Bahia, de 30/06/75, nota na coluna política "Berlinda", assinada por Newton Sobral: "Continua a Subversivomania"
Tribuna da Bahia, de 12/06/75, coluna de cartas dos leitores
Tribuna da Bahia, de 14/06/75
Tribuna da Bahia, de 20/06/75: "Chapa Verde dos bancários impetra mandado contra DRT"

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