PETRAS: “CHÁVEZ CONSEGUIU CRIAR IDENTIDADE NACIONAL E CONSCIÊNCIA DE CLASSE”



James Petras, professor estadunidense de Sociologia (aposentado), estudioso da política latino-americana: “Creio que Maduro vai superar os votos obtidos por Chávez em 7 de outubro” (Foto: Arquivo de Aporrea.org)
“Capriles já começou com declarações provocativas, sabe que insultando a memória de Chávez vai provocar enorme bronca nos bairros populares”

Por: CX36, Rádio Centenário, de Montevideo (Uruguai) - 14/03/2013 (reproduzido do portal venezuelano Aporrea.org)
Maduro em campanha num bairro popular de Caracas (Foto: Agência Efe)
Capriles, como da campanha anterior, prefere percorrer o interior do país (Foto: Agência Efe)
Efrain Chury Iribarne: Estamos em comunicação com James Petras, dos Estados Unidos. Como está?

James Petras: Bem, estamos aqui ainda tristes pela morte de Hugo Chávez e tratando de analisar as consequências, as próximas eleições… Mas estamos bem, estamos preparados para esta entrevista com vocês.

EChI: Precisamente, lhe pedimos uma reflexão sobre a Venezuela hoje.

JP: Em primeiro lugar, devemos reconhecer o enorme valor, a estatura do presidente Chávez, no sentido de ser o grande educador dum povo desgarrado que havia perdido sua consciência histórica e social.

A partir de sua presidência, o mestre Chávez logrou criar uma cultura cívica, uma identidade nacional, consciência de classe, classe consciente de seus direitos sociais e políticos, o que teve como resultados várias coisas. Primeiro a grande mobilização contra o golpe de Estado (NdeR: abril de 2002), derrotando os militares e os empresários envolvidos; derrotaram as forças pro norte-americanos de forma contundente substituindo os gerentes de empresas petroleiras desnacionalizadas. Em outras palavras, criando uma maioria absoluta para eleger o presidente e aprofundar as mudanças sociais.

Isto não é levado muitas vezes em conta quando se fala de Chávez. Especialmente os esquerdistas, marxistas do exterior, que nunca souberam nada sobre a condição humana, social e histórica na Venezuela; sempre dando assessoria, pretensiosos, pensando que eles eram mais sábios do que o presidente Chávez [como no caso da agressão imperialista contra a Líbia]. Sentados em seus escritórios estudando os textos, pensavam que sabiam tudo e que eram os grandes especialistas; mas, enquanto isso, não fizeram nada positivo em seus próprios países, Inglaterra, França, Filipinas ou qualquer outro.

Hugo Chávez era um grande mestre, um grande teórico, que sintetizava a história, as lições históricas de Simón Bolívar, a ética cristã popular e o marxismo adaptado à realidade dum Estado petroleiro, o que não era nada fácil. Teve um grande êxito em todo sentido, economicamente com um crescimento de 6% ou 7% em 10 anos; reduzindo a pobreza, e criando a dinâmica institucional capaz de permitir a continuação do processo depois de sua morte.

Agora, diante desta grande personalidade e das grandes instituições que asseguram estabilidade e dinamismo, temos o anúncio de novas eleições. Não há qualquer dúvida de que Nicolás Maduro vai ganhar as maiorias, uma maioria absoluta e vou dizer por que: por um lado, Maduro vai receber o voto ‘duro’ de Chávez, ou seja, vai reter os 55% dos votos que obteve o presidente Hugo Chávez em outubro de 2012. Além disso, vai receber o voto de ‘simpatia’, quer dizer, as pessoas que vão votar emocionalmente movidas pela morte de Chávez, que era uma grande personalidade. E também receberá o voto dos cidadãos dos 20 estados que votaram em governadores chavistas - 20 dos 23 estados venezuelanos - em dezembro. Mas também vai conseguir voto da oposição ‘moderada’, que não vê alternativa nem nenhuma possibilidade de ganhar as eleições.

Creio que Nicolás Maduro e o Partido Socialista (Unido da Venezuela - PSUV) vão superar os votos que o próprio Chávez conseguiu da última vez, vão conseguir os dez milhões de votos que foi a meta em 7 de outubro (na última eleição presidencial, Chávez obteve 55% dos votos, e Capriles ficou com 44%).

Agora bem, Henrique Capriles, o opositor direitista que se disfarçou como progressista nas eleições anteriores, sabe com certeza que não tem nenhuma possibilidade de vencer, nem sequer de conseguir uma minoria respeitável. E o sabem também ‘os patrões’ de Capriles, os de Washington, sabem que não tem qualquer chance e que sofrerá uma contundente derrota. Como resultado disso, as primeiras declarações de Capriles foram indicadoras. Rechaçou o convite da Assembleia Nacional para participar do ato de posse de Maduro como presidente interino, ou seja, foi uma declaração de guerra. A isso se somam os primeiros pronunciamentos de Capriles, insultando a memória de Chávez, insultando familiares de Chávez e criando uma situação bélica, para iniciar sua campanha.

O que significam estes acontecimentos? Significam que Washington e Capriles querem reagrupar os duros, os violentos, os extremistas, dar-lhes ânimo e apontar-lhes o caminho; dizer a eles que vão ter o apoio de 25% ou 30% dos venezuelanos que estão dispostos a tudo: violência, desestabilização, sabotagens, provocações... Já começou com declarações provocativas, sabe que atuando assim, insultando a memória do fundador da nova República venezuelana, vai provocar enorme bronca entre as maiorias, particularmente nos bairros populares onde Chávez é tido como um Santo. As eleições de 14 de abril vão determinar uma primeira fase duma nova política, mais agressiva, mais confrontante. Os Estados Unidos vão empurrar Capriles a essa política para criar uma situação caótica, assim eles podem buscar a maneira de se imiscuir entre as forças armadas e utilizar os meios de comunicação como instrumentos complementares.

Em outras palavras, temos uma perspectiva duma vitória eleitoral contundente, e também uma oposição em outra onda, com uma onda mais bélica, ao estilo dos anos 2001 e 2002, onde vão tratar de sabotar a eletricidade, a comida, a distribuição. Uma eleição que vai decidir o presidente, mas será a primeira etapa numa nova fase de confrontação.

Agora, a radicalização da direita, controlada e dirigida pelos Estados Unidos, vai tomar caminhos não constitucionais; vão radicalizar o processo na Venezuela. Creio que o governo tem que medir seus passos, não ir demasiadamente longe na política econômica para prejudicar o crescimento, mas suficientemente radical para eliminar o uso de recursos econômicos com fins golpistas. Em outras palavras, uma mescla de nacionalizações seletivas, intervenção com mão forte contra os atos ilegais e aplicar a lei com toda a força diante destas provocações, porque não se pode tentar simplesmente a conciliação, quando se tem um inimigo que busca sua garganta.

Tradução: Jadson Oliveira

Observação do Evidentemente:

Pesquisa dá vantagem ao candidato chavista

Resultado de pesquisa divulgada na segunda-feira, dia 18, na Venezuela, feita pela empresa Datanálisis, dá 14,4% de vantagem ao candidato chavista Nicolás Maduro (49,2% dos votos) sobre o oposicionista Henrique Capriles (34,8%).



Detalhes: a Datanálisis é considerada, nos meios chavistas, como ligada a setores da oposição; a direção da empresa pesquisadora, conforme informações do portal Aporrea.org, declarou que não divulga ao público e não comenta suas pesquisas: esta última divulgada na segunda foi realizada para o grupo financeiro Barclays, que a divulgou entre seus clientes.



Segundo fontes da campanha eleitoral de Maduro, as páginas da web de segunda-feira dos jornais privados anti-chavistas não divulgaram o resultado da pesquisa. Somente a página da web do Últimas Notícias tinha veiculado os números da Datanálisis. Trata-se do diário privado de maior circulação na Venezuela e que tem um noticiário mais ou menos equilibrado.



Outro dado da mesma pesquisa é que 65% dos entrevistados acham que Maduro vencerá a eleição de 14 de abril, enquanto apenas 15% dizem acreditar na vitória de Capriles.

Comentários