VENEZUELA: NOVO SISTEMA DE COMUNICAÇÃO ELEVA A VOZ DO POVO



O chavismo avança em busca duma comunicação popular para os tempos revolucionários (Foto: AVN)
Lançado o Sistema Bolivariano de Comunicação e Informação (SiBCI): agora a Revolução Bolivariana "está armada com megafones para que a verdade saia dos lábios do povo e chegue a todos os rincões".

Por Agência Venezuelana de Notícias/AVN (matéria traduzida do portal Aporrea.org, de 02/03/2013)

Ministro Ernesto Villegas (Foto: AVN)
Caracas - Neste sábado, dia 2, foi lançado o Sistema Bolivariano de Comunicação e Informação (SiBCI), criado com a finalidade de fortalecer a comunicação popular na revolução e enfrentar as agressões midiáticas contra o povo venezuelano.

No ato de lançamento, que ocorreu no bairro de Coche, em Caracas, esteve presente o vice-presidente Nicolás Maduro, em companhia do ministro da Comunicação e Informação, Ernesto Villegas, outros membros do governo e representantes dos coletivos de comunicação das comunidades.

Maduro destacou que a base comunicacional do novo sistema "é o povo organizado com diversos instrumentos de trabalho".

Ressaltou que diante do terrorismo midiático da direita "agora nós vamos construir nosso sistema para a verdade, para a democracia, para o crescimento da cultura (...) a informação verdadeira de todo nosso povo".

"Estamos chamando nosso país, todo nosso povo para fazer uma Revolução Comunicacional", com a finalidade de "construir um sistema de comunicação ampliado, que permita à gente ser e falar. É a maior garantia de que vamos ter democracia boa, forte e consolidada".

“Mistura virtuosa”

Villegas explicou que o SiBCI é uma "mistura virtuosa" entre ativistas dos meios de comunicação comunitários e alternativos e os dirigentes do antigo Sistema Nacional de Meios Públicos (SNMP – ver observação abaixo).

O SiBCI nasceu por solicitação do presidente Hugo Chávez, que em 13 de outubro de 2012 (logo depois de anunciada a vitória eleitoral de 7 de outubro), questionou "a efetividade da nossa política comunicacional" e manifestou "que às vezes nos conformamos com a convocação duma cadeia de rádio e televisão e acreditamos que dessa maneira nosso povo está inteirado das coisas que ocorrem".

Recordou que o Chefe de Estado também denunciou a estratégia da direita, não só a nativa, como ainda a coalizão das grandes corporações transnacionais, que procuram invisibilizar a gestão do Governo Bolivariano e gerar pânico num setor da população.

"Não nos conformar com informar através dos meios de comunicação, os meios são importantes, mas têm um limite. A realidade real muitas vezes está nas ruas", frisou.

Sublinhou que o SiBCI estará em cada esquina "com a verdade, com as boas novas da Revolução". Por isso fez um chamado para a criação das Unidades de Comunicação de Rua, "para que ao lado do Sistema de Meios haja uma rede social gigantesca, interconectada e musculosa".

Explicou que serão três tipos de unidades comunicacionais: a primeira está formada pelos coletivos já existentes, "a Revolução Bolivariana propiciou o florescimento duma quantidade de expressões comunicacionais, que não viemos substituir".

Em segundo lugar, se encontra a implementação de novas unidades comunicacionais de rua. Acrescentou que as "outras correspondem aos companheiros ministros, governadores e prefeitos que devem contemplar na sua política comunicacional estas unidades de comunicação de rua".

Exército da verdade

Villegas anunciou que já se encontra ativa a página www.sibci.gob.ve, que permitirá o registro de comunicadores populares para fortalecer o sistema de comunicação e construir o "verdadeiro exército comunicacional da Revolução Bolivariana, quer dizer, o exército da verdade".

Afirmou que a estrutura atual do Ministério do Poder Popular para Comunicação e Informação não é suficiente para desenvolver a difusão da gestão do governo e estar a serviço do povo.

"Vamos rumo a uma transformação: vamos criar o vice-ministério da Comunicação Popular", que será dirigido pelo cantor e compositor venezuelano Alí Alejandro Primera, que "está plantando a semente dessa instância".

Expressou que desde hoje a Revolução Bolivariana "está armada com megafones para que a verdade saia dos lábios do povo e chegue a todos os rincões".

Buen Abad: "Venezuela de novo nos envia uma mensagem de vanguarda política para todo um continente" (Foto: AVN)
Novo cenário de amadurecimento do projeto de comunicação

(Traduzida do sítio da Venezuelana de Televisão/VTV, de 04/03/2013)

“O SiBCI é um dos grandes passos no processo de amadurecimento da Revolução, quer dizer, começar a sistematizar as grandes ideias que a Revolução vem construindo”, manifestou Fernando Buen Abad em contato telefônico com o quadro Dando y Dando, do programa Toda Venezuela, transmitido pela Venezolana de Televisión (VTV – estatal).

“Venezuela de novo nos envia uma mensagem de vanguarda política para todo um continente. E isso temos que saber narrar e contar a história que a Venezuela nos oferece”, avaliou o filósofo e escritor mexicano.

Na sua opinião, o presidente Hugo Chávez converteu em realidade o clamor popular por um sistema de comunicação, que tenha o sentido revolucionário, que é urgente de acordo com os ritmos revolucionários.

Analisou que a formação do Sistema Bolivariano de Comunicação e Informação “é uma nova etapa, um novo cenário de amadurecimento do projeto comunicacional da Venezuela”.

“Eu creio que os desafios agora são enormes. A circunstância de dar este passo extraordinário abre novos campos, novas agendas e oportunidades de integração. Exige a unidade das forças comunicacionais da Venezuela e também de todo o continente”, afirmou Buen Abad.

“Sou dos que insistem que a Revolução Comunicacional não é responsabilidade somente dos venezuelanos, é também responsabilidade de todo um continente. Eu estou em festa, celebrando o nascimento deste projeto, que é tão indispensável para nos aproximar da verdade”, comentou o filósofo e escritor mexicano.

Tradução: Jadson  Oliveira


Observação do Evidentemente:

Um megafone em cada esquina

Este novo passo na política de comunicação do chavismo começou a germinar poucos dias após a vitória na eleição presidencial de 7 de outubro. Na primeira reunião ministerial, recém reeleito, Hugo Chávez fez uma célebre sessão de autocrítica e um dos pontos abordados foi a necessidade de avançar na área da comunicação. Inclusive já estava de ministro novo, Ernesto Villegas, jornalista que era diretor do jornal CCS (Ciudad Caracas, editado pela prefeitura de Libertador, o maior dos cinco municípios que compõem a capital).

Pediu então ao novo ministro uma comunicação feita também pelo povo, em novos parâmetros, de acordo com as exigências da revolução, capaz de enfrentar com eficiência o que eles chamam de terrorismo midiático da direita. Falava nessa coisa de informar diretamente nas ruas, com megafone, cartazes, em cada esquina, em cada quadra.

Logo em seguida, Villegas organizou um amplo seminário para discutir a questão, contando inclusive com a participação dos meios alternativos e comunitários, com os chamados comunicadores populares, uma marca muito forte do processo venezuelano. Esse Fernando Buen Abad, estudioso mexicano do assunto (nota acima), foi um dos palestrantes.

Bem, toda essa movimentação desembocou agora no lançamento do novo sistema de comunicação popular, uma experiência nova – própria dos ares revolucionários que sopram na Venezuela e em alguns países latino-americanos -, cujo acompanhamento será de muita utilidade aos movimentos sociais e partidos políticos da região.

(Isso vale também para outros aspectos da chamada Revolução Bolivariana, como é o caso das comunas socialistas, o ponto prioritário de Chávez na mencionada sessão de autocrítica).

Os veículos - agência de notícias, jornais e emissoras de rádio e TV - ligados ao governo venezuelano (Foto: Jadson Oliveira)
O arsenal do chavismo contra o terrorismo midiático

Aproveito para destrinchar o que agora o ministro Villegas chama de “antigo” Sistema Nacional de Meios Públicos (SNMP). Com ele, o governo de Chávez e a aguerrida militância socialista vêm enfrentando, com êxito, os meios de comunicação hegemônicos da direita, privados e ferrenhos opositores, que contam com amplo respaldo internacional. Em muitas matérias neste meu blog, quando estive lá da última vez (junho a outubro/2012), falei da disparidade de forças: a mídia opositora tem em torno de 80% dos veículos (jornais e emissoras de rádio e TV).

Vou pela ordem da foto acima, como está no sítio do Ministério da Comunicação e Informação (MinCI):

1 – AVN – Agência Venezuelana de Notícias;
2 – RNV – Rádio Nacional da Venezuela;
3 – Telesur (Telesul) – TV multi-estatal de alguns governos latino-americanos, com sede na Venezuela. Boa alternativa para se contrapor ao pensamento único da mídia hegemônica, infelizmente não aproveitada pelos governos ditos progressistas no Brasil (quando estive no Paraná, durante o governo de Roberto Requião, os noticiários da Telesur eram reproduzidos pela TV Educativa – do estado);
4 – TVes – Televisora Venezuelana Social;
5 – VIVE TV;
6 – VTV – Venezuelana de Televisão – faz o papel de tropa de choque em matéria de telejornalismo, é a preferida da militância chavista;
7 – Rádio Mundial;
8 – La Radio Del Sur;
9 – CO – Correo del Orinoco – jornal diário estatal (o governo recuperou o nome do jornal criado pelo Libertador Simón Bolívar no início do século 19, durante a luta pela independência);
10 – CCS (Ciudad Caracas) – jornal diário referido acima;
11 – ANTV – TV da Assembleia (Congresso) Nacional.

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