A DIREITA VENEZUELANA MANTÉM OFENSIVA, MAS PERDE SUA PRINCIPAL TRINCHEIRA TELEVISIVA





Capriles, respaldado pelo império estadunidense, mantém a postura golpista depois da derrota apertada para Maduro (Fotos: Internet)
De Salvador (Bahia) - José Vicente Rangel é um jornalista muito bem conceituado na Venezuela. Apesar de chavista declarado - já foi inclusive ministro da Defesa e vice-presidente de Chávez -, tem livre trânsito na mídia privada, a maioria dela anti-chavista. Além do programa na TV privada (Televen) referido na matéria postada logo abaixo, tem uma página semanal no Últimas Notícias, o jornal privado de maior circulação do país, que busca um certo equilíbrio no seu noticiário, porém é mais contra do que a favor do chavismo. (O diário faz parte do Grupo Capriles, o mais poderoso no ramo da comunicação. Como o nome está indicando, o líder da oposição Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda e perdedor nas duas últimas eleições presidenciais, faz parte da família dos proprietários).


Arrisco uma opinião pessoal: o Rangel me parece muito otimista ao dizer que acredita na possibilidade de diálogo. Ao contrário, desde o anúncio da derrota apertada de Capriles na eleição de 14 de abril - diferença de uns 270 mil voto, menos de 2 pontos percentuais -, a ultra-direita passou a dar as cartas na oposição, não reconheceu Nicolás Maduro como presidente e partiu pra cima. Atos de violência, convocados por Capriles, deixaram 11 mortos (contando com feridos que vieram a morrer; segundo a imprensa governista, todas as vítimas eram chegadas à militância chavista), dezenas de feridos e muitos estragos materiais.
Cabello, o segundo homem (depois de Maduro) mais forte do chavismo
Lideranças chavistas e representantes do Ministério Público garantiram que os ataques violentos seriam apurados e os responsáveis punidos. Até agora, nada. Creio que o governo de Maduro teme o agravamento de sua imagem, diante de uma possível punição que atingisse líderes políticos da direita - claramente comprometidos com os protestos violentos, tachados pelo governo como fascistas. Especialmente porque os monopólios da mídia hegemônica, em todo o mundo (inclusive no Brasil), orquestrados pelo poderoso império, fazem escancaradamente o jogo da oposição venezuelana. Possíveis condenações de lideranças direitistas seriam noticiadas em todo o mundo como manifestação da intolerância governamental.


E Capriles, a meu ver, continua na ofensiva, não dando qualquer demonstração de que vá se enquadrar nos moldes de uma oposição democrática e institucional. Nesta quarta-feira, dia 29, por exemplo, conseguiu ser recebido pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o que o fortalece politicamente. O governo venezuelano já acusou o golpe e protestou, lembrando a possibilidade de “descarrilamento” nas boas relações dos dois países. Boas relações conseguidas, a duras penas, por Chávez, depois da saída do ultra-direitista Álvaro Uribe e a assunção de Santos à presidência.


Mas a oposição acaba de sofrer um pesado golpe na área da comunicação, área que se tornou protagonista nas grandes batalhas da política moderna. Perdeu a sua mais radical cidadela televisiva: a TV Globovisión, que era chamada pelos chavistas de Globoterror, representante maior do que eles denominam terrorismo midiático.


Mesmo antes da eleição de 14 de abril, o acionista majoritário da Globovisión já tinha anunciado a venda da emissora. Parecia cansado de perder eleições depois de 14 anos de derrotas. O anúncio foi consumado. Recentemente a nova direção da TV esteve no Palácio Miraflores com o presidente Maduro. Resultado: anunciou há poucos dias que vai buscar fazer noticiários equilibrados e os pronunciamentos do Capriles deixaram de ser transmitidos ao vivo: serão - explicaram, como, aliás, seria o normal - noticiados nos seus tele-jornais, tratamento a ser dado a pronunciamentos de outros líderes políticos, inclusive chavistas (ou "oficialistas", como dizem por lá). E começou a afastar de seus programas noticiosos - leia-se opinativos, radicalmente anti-chavistas - apresentadores carimbados da oposição.
Mario Silva, o "guerrilheiro midiático", com seu comandante Chávez, no popular La Hojilla
Enquanto isso, entre os governistas houve também forte turbulência na mesma área. O popularíssimo apresentador da Venezuelana de Televisão (VTV - a mais importante emissora estatal), Mario Silva - dono do célebre La Hojilla (A Navalha), que atacava impiedosamente a direita, especialmente seus porta-vozes na imprensa -, foi tirado do ar depois que a oposição divulgou um vídeo onde ele, supostamente, denuncia atos de corrupção no seio governista, envolvendo o presidente da Assembleia (Congresso) Nacional, Diosdado Cabello, o segundo homem (depois de Maduro) mais forte do chavismo. 


(Cabello era tenente do Exército, companheiro do então tenente-coronel Hugo Chávez quando do levante militar - ou tentativa de golpe - de 1992, episódio que catapultou Chávez para o topo da política nacional. Cabello já ocupou várias posições de relevo nesses 14 anos de chavismo, inclusive a de vice-presidente, sendo atribuída a ele forte liderança entre os militares).


Mario Silva contestou a autenticidade da gravação e se colocou à disposição do Ministério Público para as investigações. Publicamente foi respaldado por declarações tanto de Maduro como do próprio Cabello, que se apressaram a desqualificar o deputado ultra-direitista Ismael García, que apresentou a gravação. Mas, pelo sim e pelo não, o combativo La Hojilla, no ar desde 2004, com seu famoso grito de guerra "Prepare-se", e o Mario Silva, já chamado de “guerrilheiro midiático” da Revolução Bolivariana, foram defenestrados da TV estatal.

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