LULA E EVO MORALES ANALISAM A CRIAÇÃO DUM CONSELHO DE ASSESSORAMENTO A GOVERNOS

Morales participou do encerramento do Foro de São Paulo no domingo e teve um encontro de duas horas com Lula no sábado (Foto: noticias.bol.uol.com.br)

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou neste domingo (dia 4) que discutiu com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva a criação de um conselho econômico e de comissões técnicas e jurídicas para dar apoio aos governos de esquerda da América Latina. A reunião com Lula ocorreu na noite de sábado e durou cerca de duas horas.

- É hora de cuidar dos presidentes e dos governos anti-imperialistas. Organizar conselhos ou comissões da parte técnica e jurídica para prevenir problemas que se apresentem com governos esquerdistas ou anti-imperialistas - disse Morales na cerimônia de encerramento do foro, que reuniu 1330 integrantes de 91 organizações socialistas do continente em um hotel no centro de São Paulo.

Em entrevista coletiva, Morales justificou ter feito a reunião com Lula e não com a presidente Dilma Rousseff. Disse ter uma relação de proximidade com o petista, que o aconselhou durante as eleições de 2005. Morales defendeu a necessidade de um conselho econômico:

- Se nossos governos fracassarem em seus países, não vamos poder seguir avançando.

Para Morales, a assessoria de esquerda que discutiu com Lula deveria ter também como foco as disputas econômicas com as grandes corporações nos processos de estatização:

- Temos de começar a organizar esses conselhos econômicos e jurídicos, com especialistas em temas internacionais, que podem nos ajudar a lidar com esses processos que surgem porque nacionalizamos os serviços básicos, recursos naturais ou de telecomunicações – disse o presidente, para quem “nestas demandas, nunca ganham os estados, sempre ganham os privados”.

O presidente boliviano criticou a condição imposta pelos investidores, que pedem segurança jurídica:

- Eles me pedem segurança jurídica e política. Para mim, o mais importante é a segurança da pátria e do povo.

O boliviano, que no ano que vem será o anfitrião da vigésima edição do Foro de São Paulo, criticou ainda a Aliança do Pacífico, organização à qual se associaram Colômbia, Chile e Peru. Segundo ele, a aliança retoma o modelo do Consenso de Washington, combatido pelos governos de esquerda.

- Seu princípio é a liberalização do mercado e de serviços – disse ele que continuou: – Em que consiste ser socialista? É converter os serviços básicos em serviços públicos e não em negócio privado. 

Morales também criticou a instalação de bases militares americanas em países da América do Sul: – Sem bases militares, sem intervenção política e militar - pediu ele.

Questionado sobre a liberdade de expressão na Bolívia, Morales disse que “sobra liberdade”. Ele disse ser ofendido com expressões como “filho de uma lhama” e “macaco”, mas que a imprensa deve continuar livre:

- Eles nos insultam, nos humilham. Mas nós aguentamos, aguentamos - disse ele, que continuou: – Os jornalistas devem pedir liberdade de expressão é para os meios de comunicação.

Morales disse estar “feliz” com a libertação dos doze brasileiros torcedores do Corinthians que estavam presos em Oruro desde fevereiro, acusados da morte do torcedor boliviano Kevin Spada:

- Há independência de poderes na Bolívia. Lamento a morte (de Kevin). Achei que eles tivessem sido presos no estádio e depois soube que foi na rua. Pensei: o que se passa com a justiça boliviana? Se tem que acusar, que seja um e não onze. Felizmente os liberaram.

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