NILS CASTRO: DIREITA PRECISA DESESTABILIZAR A AMÉRICA LATINA, POIS ELES SÃO MINORIA


Nils Castro acredita em um contra-ataque dos grupos de direita na América Latina (Foto: Dodô Calixto/Opera Mundi)
Escritor discorre sobre "contra-ofensiva" de grupos conservadores aos progressos sociais latino-americanos

Por Dodô Calixto, de São Paulo - reproduzido de Opera Mundi, de 02/08/2013

Um dos grandes estudiosos dos movimentos sociais na América Latina, o escritor panamenho Nils Castro, afirmou na sexta-feira (02/08) que tem preocupação com aquilo que classifica como "contra-ofensiva" de grupos conservadores aos dirigentes de esquerda latino-americanos. Processo que, segundo o intelectual, pode prejudicar os avanços sociais conquistados nos últimos anos. Em entrevista a Opera Mundi, o autor de “As esquerdas latino-americanas em tempos de criar” fala em "manobras de desestabilização da direita" no processo.

“Nem a direita nem o imperialismo vão ficar quietos frente ao progresso social e à ascensão social das pessoas. Não podemos esquecer  que eles ainda são fortes. Tem a mídia, os meios, o dinheiro. Mas, como eles são minoria, eles precisam desestabilizar primeiro para fracionar o movimento popular que conquistou históricas reformas sociais na América Latina", argumenta.

Quando Nils Castro fala em desestabilização, ele se refere à criação e promoção de crises que "criam um clima de insatisfação social que coloca a população contra os dirigentes progressistas". No entanto, perguntado se existe um centro de direita contra a integração latino-americana utilizando o Panamá como matriz, Castro não acredita que o país pode influenciar ou agir com tal magnitude. Ele acredita, porém, que a esquerda no geral deve ficar atenta a um processo histórico que se "inicia com a desestabilização e culmina com deposições e golpes".

"Antes da invasão norte-americana ao Panamá que destruiu nosso processo de libertação nacional, nós sofremos com muita desestabilização financiada pela direita. Foi uma forma de ir quebrando as pernas do processo democrático nacional antes de dar o golpe final. 

Quando 20 mil soldados da melhor infantaria norte-americana desembarcaram em nosso país, a nossa luta já estava enfraquecida com desestabilização social e econômica. Esses movimentos foram só um prefácio de algo pior que vem depois, que é um golpe. Por isso é preciso ficar atento", argumenta sobre as ações conservadores na América Latina.

Durante participação no Foro de São Paulo, Nils Castro também defendeu que a "América Latina tem uma rica diversidade de processos nacionais e socioculturais que é preciso compreender e somá-los sem restringir as forças da pluralidade de seus integrantes", disse em referência à toda variedade de povo e culturas constantemente oprimidos no continente.

O escritor também falou da importância da juventude para a renovação da esquerda. "Escrevi meu livro (As esquerdas latino-americanas em tempos de criar) para os jovens. Eles precisam conhecer o motivo da nossa luta, mas de uma forma que eles possam entender. Hoje escrevo como se quisesse que meus netos pudessem ler", disse.

Nils Castro é doutor em Letras e lecionou no Panamá, Cuba e México. Foi diretor da Escuela de Letras e de Extensión Cultural na Universidad de Oriente, em Santiago de Cuba. Diretor de Planificación Académica e da Escuela de Relaciones Internacionales na Universidad do Panamá. Foi um dos negociadores do Grupo de Contadora (coletivo que contava com México, Panamá, Colômbia e Venezuela como resposta à retomada política intervencionista norte-americana na América Central).

Participou de iniciativas de solidariedade e concertação política para o reestabelecimento da democracia na América Latina e para a resolução de conflitos armados. Analista de processos políticos da região, é colaborador de diversas publicações do Panamá, México, Argentina e Brasil.

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