PERU: HUMALA REAGE CONTRA A CONCENTRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


Através dos seus meios de comunicação, o grupo El Comercio exerce uma constante pressão sobre o governo de Ollanta Humala. (Foto: AFP/Página/12)


O presidente peruano qualificou como “uma vergonha” o monopólio midiático exercido pelo grupo encabeçado pelo jornal El Comercio: o grupo tem nove diários de circulação nacional e controla 80% da imprensa escrita. Humala disse que “por enquanto não é ilegal”, dando a entender que faria alguma coisa. Alguns analistas se mostram céticos.

Por Carlos Noriega, de Lima, no jornal argentino Página/12, edição de 06/01/2014

A perigosa concentração dos meios de imprensa nas mãos dum poderoso grupo econômico - e o que isto representa como ameaça à pluralidade informativa e à liberdade de expressão -, saltou nestes dias ao centro do debate político. O presidente Ollanta Humala e o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa abriram o debate. Numa entrevista, Humala qualificou como “uma vergonha” a concentração dos meios que ocorre no país e advertiu que era “perigosa para a liberdade de expressão”. Nesse mesmo dia, numa entrevista publicada no diário La República, Vargas Llosa assinalou que esta situação representa “uma ameaça potencial muito grande contra a democracia”. O presidente Humala disse que compartilhava com a posição do escritor e fechou suas declarações com uma afirmação que parecia anunciar uma ação do governo frente a esta situação: “Por enquanto não é ilegal”, disse, ao referir-se à concentração da maior parte dos meios no grupo El Comercio. Mas o governo não passou das declarações do presidente à ação.

El Comercio, que não é somente o maior grupo midiático do país, mas também um importante grupo econômico com interesses em diversos setores e grandes contratos com o Estado, tem nove diários de circulação nacional e controla 80% da imprensa escrita, é proprietário do canal com a maior audiência da televisão aberta e do mais importante canal de notícias a cabo. Consolidou seu domínio midiático em agosto de 2013, quando adquiriu a maioria das ações do grupo Epensa, proprietário de quatro jornais diários. Oito jornalistas apresentaram uma demanda judicial para anular esta operação de compra, argumentando que ao produzir uma quase monopólica concentração de meios ela viola os direitos constitucionais relativos à liberdade de expressão e ao pluralismo informativo.

Com o seu domínio midiático, o grupo El Comercio impôs uma linha editorial e informativa marcada pela cerrada defesa das políticas neoliberais. Através de seus veículos informativos, que têm no diário El Comercio sua marca representativa, este grupo econômico exerce uma constante pressão sobre o governo de Humala, mantendo-o manietado para que não mude um centímetro as políticas neoliberais. O governo tem mostrado pouca capacidade de reação e resistência diante das críticas e pressões, e em mais de uma ocasião retrocedeu em alguma decisão que o colocou na mira dos órgãos de comunicação do grupo. O grande retrocesso se deu na primeira etapa do governo, quando um Humala pressionado pelos meios e pelos grupos econômicos renunciou ao fundamental de seu programa progressista.

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“Las declaraciones del presidente Humala contra la concentración de medios parecen reflejar su hartazgo frente a la situación actual, en la que hay una especie de dictadura mediática”, le declaró a PáginaI/12 Alberto Adrianzén, sociólogo y parlamentario andino. Humala recibió como respuesta los duros ataques del conglomerado mediático, a los que se sumaron los otros medios televisivos. La oposición de derecha, muy cómoda con la línea impuesta por El Comercio, cerró filas en defensa de este grupo. Todos recurrieron al mismo discurso: acusaron a Humala de amenazar la libertad de prensa por hablar de la necesidad de regular la propiedad de los medios para evitar su concentración en un grupo económico. En el gobierno nadie (ninguém) salió a respaldar las declaraciones del presidente. Nadie del oficialismo (Ninguém entre os governistas) defendió la postura, a la que apuntaba Humala con sus declaraciones, de que la verdadera amenaza a la libertad de prensa está en la concentración de medios y no en una eventual regulación que evite esa concentración.

“Todos le tienen miedo al inmenso poder mediático de El Comercio”, asegura Adrianzén, quien advierte de “un pacto de impunidad” entre este grupo mediático y partidos como el Apra, del ex presidente Alan García, acusado por corrupción y por indultar a centenares de narcotraficantes, y el fujimorismo (de Alberto Fujimori), que busca presionar para lograr la excarcelación (a soltura, ele está condenado e preso) del ex dictador Alberto Fujimori, para defenderse mutuamente. “Hay que ver si Toledo también entra a la negociación de este pacto de impunidad”, señala Adrianzén. El ex presidente Alejandro Toledo también está acusado de corrupción.

En respuesta a los ataques de los medios y de la derecha, el primer ministro, César Villanueva, minimizó las declaraciones del presidente. Dijo que lo dicho por Humala era “solamente una declaración” y aseguró que el gobierno no impulsará una ley para evitar la concentración de medios. Otros ministros declararon en el mismo sentido. Humala insistió en criticar la concentración de medios, pero, sin respaldo al interior de su propio gobierno, aclaró que no tiene como una prioridad sacar adelante una ley para evitarla y pidió que el tema sea visto en el Congreso. Ahí tampoco encontró apoyo en su bancada. Voceros del oficialismo (governismo) respondieron, desmarcándose del mandatario, asegurando que ellos no presentarán en el Parlamento una propuesta de ley sobre este asunto.

“Humala tiene el coraje para declarar criticando la concentración de medios, pero no tiene el coraje ni la fuerza para cambiar esa situación. Estamos ante un presidente debilitado, aislado (isolado), sin la fuerza para llevar a los hechos lo que ha declarado”, dice Adrianzén.

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