LA CAJITA INFELIZ: O PODER SE ESCONDE NAS SOMBRAS (o livro que disseca a sociedade capitalista)




(Fotos: Internet)
“O autor nos leva desde os elementos mais evidentes da sociedade de repressão, até elucidar os mecanismos mais complexos de dominação e exploração do sistema capitalista, com uma perspectiva marxista integral que não deixa sem explicação absolutamente nenhum fenômeno da esfera social”.

De Salvador (Bahia) – Apresento a vocês um livro que parece muito importante, especialmente para os militantes da causa socialista ou para quem alimenta a curiosidade de conhecer os mecanismos de dominação do sistema capitalista. É “uma viagem ao coração da sociedade capitalista, onde quem mantém o poder se esconde nas sombras”, como dizem os textos, à guisa de apresentação, que me foram enviados, via e-mail, por um militante político com quem mantive contato quando estive em La Paz (Bolívia).

O nome em espanhol é “La Cajita Infeliz - Un viaje marxista a través del capitalismo” (uma tradução literal seria “A Caixinha Infeliz – Uma viagem marxista através do capitalismo”), mas, até onde sei, não há edição em português. No segundo semestre do ano passado, quando estive em São Paulo, não encontrei na Livraria Cultura, e não consegui também numa edição em espanhol. É mais uma mostra do atraso no Brasil – no caso na área editorial, em relação à América Latina – de tudo o que se relaciona com a luta pelo socialismo.

O autor é o professor argentino Eduardo Sartelli. Pelo que sei, foi lançado em 2005 na Argentina, com sucesso de vendas. Estourou no mercado venezuelano, uma demonstração do avanço político dos nossos combativos bolivarianos do chamado Socialismo do Século 21, sob a liderança do grande Hugo Chávez. E recentemente foi lançado na Bolívia.
No material de apresentação é dito que o livro procura responder a pergunta: por que estamos como estamos? Pelo que entendi seria  uma espécie moderna de O Capital, o famoso clássico de Marx, escrito de forma mais didática e de mais fácil compreensão, atualizado e com exemplos práticos do nosso cotidiano, e também com rigor científico, dentro do mote de que não precisamos apenas conhecer a realidade, mas transformá-la revolucionariamente.

Analisa então os problemas da nossa sociedade capitalista e retoma as grandes polêmicas do marxismo contra o reformismo e o anarquismo, conforme os textos de apresentação. Antes de virar livro, seus temas foram debatidos em assembleias populares, sindicatos, escolas e universidades argentinos.

A burguesia e os vampiros, tudo a ver

É dito também que La Cajita, como é mencionado de forma coloquial, utiliza como guia transversal o Drácula de Bram Stoker (o grande clássico da literatura universal sobre o tema), partindo da célebre comparação que Karl Marx faz da burguesia com os vampiros (a propósito, li recentemente este Drácula, presente de meu filho, uma beleza pra quem curte tal “personagem” como eu, atualmente tão maltratado pelas patacoadas dos efeitos especiais dos filmes roliudianos, pelo menos levando em conta o que aparece na TV brasileira, já que quase nunca vou a cinema).

Traduzo o último parágrafo da apresentação:

“Fazendo referência no título ao produto mais emblemático da mais famosa transnacional de comida rápida (pelo que depreendo daí, trata-se do nome de algum “prato” fast food, em espanhol, do McDonald’s), o autor nos leva desde os elementos mais evidentes da sociedade de repressão, até elucidar os mecanismos mais complexos de dominação e exploração do sistema capitalista, com uma perspectiva marxista integral que não deixa sem explicação absolutamente nenhum fenômeno da esfera social. Nada escapa de La cajita infeliz que nos propõe a sociedade burguesa”.

Contém indicações sugestivas nos títulos dos capítulos, como: Anarquistas, hamburguesas e vampiros; Apetrechos necessários para viajar a Transilvânia; Os imperadores invisíveis; Masmorras, catacumbas e outros lugares subterrâneos; Por que há crise, miséria e morte?; De que morrem as pessoas?; Por que votamos e votamos e nunca muda nada?; Uma senhora de olhos vendados – por que temos de ser amigos do juiz?

“Um forte alento da herança de Trotsky”

O conceituado intelectual Horacio González, diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, diz: “Está feito com os elementos das grandes reflexões de Trotsky sobre a cultura russa do fim do século 19. É sabido que Trotsky se interessou pelo feudalismo, se interessou pelas cidades, se interessou pela psicanálise, se interessou por todas as tendências da pintura contemporânea e se interessou pelas tecnologias. Este livro tem um forte alento da herança de Trotsky. (...) É um livro fervoroso, útil e ao mesmo tempo emocionante e apaixonante.”

Já Jorge Altamira, velho dirigente do Partido Obreiro (o PO, “Partido Obrero”, que no Brasil poderia se chamar Partido Operário, o maior partido da esquerda argentina – no Brasil seria “esquerda radical” ou “extrema-esquerda”), diz: “O livro abre uma perspectiva nova numa literatura de denúncia, numa literatura de análise: a perspectiva anticapitalista (...) Se este livro tem o êxito que tem, é o sintoma duma mudança  de tendência no sentimento e na combatividade populares, que tem uma expressão intelectual nesta obra.”

Eduardo Sartelli (foto) é doutor em História da Universidade de Buenos Aires, onde faz trabalhos de investigação e leciona, igualmente na Universidade de La Plata. É diretor do Centro de Estudos e Investigações em Ciências Sociais (CEICS) e integrante do comitê editorial de Razón y Revolución e El Aromo. É autor de outros livros, como Patrones en la ruta. El conflicto agrario y los enfrentamientos en el seno de la burguesía (março - julho de 2008); e de La Plaza es nuestra. La lucha de clases en la Argentina del siglo XX (2003, segunda edição modificada abril 2005).

(Amanhã publico uma entrevista do autor)

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