HAITI: 10 ANOS DA OCUPAÇÃO MILITAR: “O POVO QUER QUE AS TROPAS SAIAM JÁ”



(Foto: The Prisma/Carta Maior)

Segundo o pesquisador haitiano Franck Seguy, o Brasil colabora com os Estados Unidos, que terceirizaram a invasão militar no Haiti por interesses comerciais próprios.

Por Fábio Nassif, no portal Carta Maior, de 22/05/2014

A ocupação militar no Haiti, comandada pelas tropas brasileiras do Exército, completa dez anos no dia 1 de junho. A Minustah (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti) foi iniciada a partir de decisão da Organização das Nações Unidas em 2004, quando estávamos sob o governo Lula (PT).

O fato chama a atenção para uma reflexão sobre o papel brasileiro em um país que conhecidamente foi espoliado durante sua história. A imagem muitas vezes transmitida por veículos de mídia oficiais e pela grande mídia empresarial é de que os soldados brasileiros desempenham um papel de paz e de solidariedade. Essa não é a opinião do pesquisador haitiano Franck Seguy. Ele acompanhou de perto a atuação das tropas militares até vir em 2008 estudar no Brasil. Em 2011 voltou a morar lá e acaba de concluir seu doutorado na Unicamp, com a tese "A catástrofe de janeiro de 2010, a ‘Internacional Comunitária’ e a recolonização do Haiti”. Orientado pelo sociólogo Ricardo Antunes, Franck pretende lançar a tese em livro.

Na entrevista que nos concedeu, Franck ressalta os interesses do Brasil na missão militar, destacando a busca por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e o aprofundamento de laços comerciais. Em sua visão, o Brasil desempenha um papel subimperialista no país e colabora com os Estados Unidos – que passaram a terceirizar a invasão militar no Haiti por interesses comerciais próprios.

Ele destacou a atuação repressiva e violenta das tropas militares, rejeita o nome de “missão de paz” e afirmou que o objetivo é “estabilizar a ordem existente, que mantém o haitiano na precariedade que ele está hoje”. Sobre a retirada das tropas, Franck acredita que o cenário mais provável é que a Minustah saia do país “somente quando eles tiveram garantia de que já existe uma força nacional capaz de garantir o mesmo papel da Minustah”. Apesar disso, reforça: o povo haitiano quer a saída imediata.

Leia a entrevista na Carta Maior:

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