VENEZUELA: DIÁLOGO E VIOLÊNCIA EM SEUS RESPECTIVOS LABIRINTOS (Parte 3)




Lula: o horizonte socialista parece estar totalmente fora do olhar do ex-presidente brasileiro (esta legenda é uma observação deste blog) (Foto: Internet)

Nicolás Maduro assegurou estar “de acordo totalmente” com a recomendação do ex-presidente brasileiro Lula da Silva de formar um governo de coalizão, mas descartou negociar os princípios socialistas de sua administração com seus opositores.

Por Aram Aharonian, de 02/05/2014 (o artigo vai aqui por partes, traduzido do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe)

O começo do diálogo

Depois de tantos anos sem acesso a uma cadeia de rádio e TV, e sem nem sequer acercar-se do palácio do governo após o frustrado golpe que faz exatamente 12 anos, a oposição dividiu em mais duma dezena de partes sua tática discursiva, após escolher minuciosamente os que podiam ter mais impacto numa audiência de milhares de pessoas, poucas vezes registrada na era pós-chavista.

O encontro – chame-se diálogo, foro ou catarse coletiva - durou mais de cinco horas, com a participação de 19 oradores: 11 representantes da Mesa da Unidade Democrática (MUD – onde estão reunidos 29 partidos de oposição) e oito do campo governista. Houve verdades, meias verdades e também falsidades. O público esteve dividido entre firmes chavistas e não menos firmes opositores, mas sobretudo uma massa crítica maior, a qual uns e outros quiseram seduzir. Não se pode falar de vencidos nem vencedores, mas se pode afirmar que a maioria do país considerou um fato positivo.

Unasul apresentou o diálogo como uma necessidade, logo após dois meses de violência urbana convocada e ativada por um setor da oposição conduzida por Leopoldo López, Antonio Ledezma e María Corina Machado.

Ricardo Patiño, chanceler equatoriano, destacou que a situação na Venezuela se diferencia muito da de outros lugares do mundo, como na Líbia e Síria, “onde se produziram diferenças internas e outros governos em vez de contribuir com a paz do diálogo, contribuíram com armas, financiamento a grupos para incendiar estes países (…) “Não trouxemos armas. Trouxemos paz, diálogo, como irmãos, acompanhando o respeito à democracia do Estado de direito”.

Porém a necessidade responde também a uma condição de debilidade do governo de Maduro ao não poder continuar desenvolvendo um projeto hegemônico tal como vinha construindo Hugo Chávez em sua última etapa de governo, baseado numa maioria eleitoral inegável e inquestionável que permita prescindir de qualquer negociação para a subsistência do processo revolucionário.

E à necessidade há que agregar as pressões, não somente dos previsíveis setores ultraconservadores, que buscam a restauração neoliberal, mas também da social-democracia europeia e latino-americana, para abandonar “a loucura” do caminho rumo ao socialismo. Maduro assegurou estar “de acordo totalmente” com a recomendação do ex-presidente brasileiro Lula da Silva de formar um governo de coalizão, mas descartou negociar os princípios socialistas de sua administração com seus opositores.

Lula propôs “estabelecer uma política de coalizão, construir um programa mínimo e diminuir a tensão”, após semanas de protestos que deixaram 39 mortos e centenas de feridos e detidos. O ex-mandatário pressionou por “uma solução negociada (…) um pacto político de cinco anos para trabalhar contra os cortes de energia, lutar contra a inflação e ser auto-suficiente na produção de alimentos, porém isto não se logrou porque Maduro, depois de assumir o governo, não fez outra coisa a não ser ir às ruas responder os protestos da oposição”, analisou Lula. (Continua amanhã - as partes 1 e 2 foram postadas nos dias 5 e 6/maio)

Tradução: Jadson Oliveira

Comentários