ALÍ RODRÍGUEZ: “AVANCEMOS NAS AÇÕES CONCRETAS” (Parte 3/final)



Alí Rodríguez (Foto: Página/12)
Entrevista com o venezuelano Alí Rodríguez, secretário geral da Unasul.

Foi multiministro de Hugo Chávez e hoje ocupa na Unasul o mesmo posto inaugurado por Néstor Kirchner. Alí Rodríguez Araque explicou numa entrevista ao Página/12 que só com mais integração a América do Sul poderá competir com as corporações gigantescas que se sustentam mediante o processo de concentração econômica. O papel dos trabalhadores. Um plano para controlar os recursos naturais.

Por Martín Granovsky, no jornal argentino Página/12, edição de 15/06/2014 (a parte 1 foi postada no domingo, dia 22, e a parte 2 na quinta-feira, dia 26)

Chávez e Kirchner (continuação)

Como exemplo de integração concreta, Rodríguez – que com Chávez foi ministro da Energia Elétrica, da Energia e Minas, da Economia e Fazenda, chanceler e presidente da Petróleos da Venezuela Sociedade Anônima (Pdvsa – estatal) – narrou que em abril de 2004 estava visitando Montevidéu, na refinaria de La Teja, quando recebeu um telefonema de Chávez. “Alí, vá a Buenos Aires”, ordenou. “Se é necessário levar a refinaria de Paraguaná, leva-a”, disse. Paraguaná, na Venezuela, é o segundo maior complexo de refinação do mundo.

“Falei muito com o presidente Néstor Kirchner e muito rapidamente chegamos a conclusões bem óbvias. A Argentina era uma potência na produção de alimentos e tinha saldos exportáveis. A Venezuela era uma potência na produção de energia e tinha saldos exportáveis. Venezuela tinha falta de alimentos. Argentina tinha falta de energia. Essa situação na política internacional é uma das formas da assimetria. Nós diagnosticamos que as economias eram complementares e convertemos essa dedução em políticas de colaboração. O que parecia ser uma desvantagem se converteu em uma vantagem. As famosas assimetrias serviram e muito rapidamente, nos primeiros dois ou três anos, um comércio de 140 milhões de dólares chegou aos 2,4 bilhões. Por exemplo, os estaleiros do Rio Santiago estavam paralisados. O acordo a que chegamos previu que a Venezuela mandaria os barcos de sua frota aos estaleiros, e isso foi um alívio para os trabalhadores, que tinham muitas dúvidas sobre qual seria o seu futuro. Se por um momento imaginamos que isso ocorre entre todos os países da América do Sul, e entre todos os da América Latina e Caribe, aparecerão centenas de possibilidades nada mais do que por um simples fato: por ver com outros olhos distintos dos meramente mercantis os processos de intercâmbio entre nossos países e entre nossos povos.”

–Washington assinou tratados de livre comércio por exemplo com o Peru, Colômbia e Chile, porém não conseguiu fazê-lo com o Brasil, Venezuela e Argentina, que são três dos quatro (juntando com a Colômbia) maiores países da América do Sul.

–É um fato importante, mas não deixemos de prestar atenção aos TLCs, porque como diz a frase popular “del abogado aunque sea el sombrero” (tradução literal: “do advogado ainda que seja o chapéu”). Na medida em que mais países se somem aos TLCs e estabeleçam zonas de livre comércio, aonde chegaremos no final das contas? Um aspecto a se levar em conta é que o fato de ter sido derrotado o “fast track” de George Bush em Mar del Plata não quer dizer que os Estados Unidos tenham renunciado a criar uma zona de livre comércio. Fracassado o intento da ALCA não abandonaram o espírito dessa política. Querem alcançar os objetivos através dos tratados de livre comércio com distintos países e regiões. A essência dos TLCs é a mesma da ALCA.

–Você era chanceler da Venezuela em novembro de 2005, durante a cúpula de Mar del Plata que impediu (“que le puso bolilla negra”) a criação da Área de Livre Comércio das Américas.

–Uma grande vitória.

–Oito anos e sete meses depois não lhe pergunto o que teria acontecido com a ALCA. Lhe pergunto o que aconteceu sem a ALCA.

–Se quer, pode fazer também a primeira pergunta. Pergunte aos mexicanos o que lhes aconteceu com o Nafta, a área de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá. Veja o que aconteceu com os produtores de milho.

–O que aconteceu?

–Estão arruinados. Não escolhi esse exemplo por acaso. É mais que um pequeno dado: a tortilha (feita de massa de milho) é a base da alimentação mexicana.

Tradução: Jadson Oliveira

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