COMO O REINO UNIDO ENSINOU OS MILITARES BRASILEIROS A TORTURAR



(Foto: Carta Maior)

A BBC encontrou evidências de que o Reino Unido colaborou ativamente com os generais e os treinou com técnicas sofisticadas de interrogatório

Por Emily Buchanan/BBC - Do portal Carta Maior, de 03/06/2014
Às vésperas de sua estreia, a Copa do Mundo atrai a atenção de muitos. Mas, no país-sede, há os que vivem sob a sombra do passado, com revelações que têm mostrado claramente como era a situação durante o regime militar vigente desde 1964 até 1985. A BBC encontrou evidências de que o Reino Unido colaborou ativamente com os generais e os treinou com técnicas sofisticadas de interrogatório.

A ditadura que durou 21 anos no Brasil é menos conhecido no exterior do que o da Argentina ou o do Chile, mas também foi brutal. Centenas morreram e milhares foram presos e torturados.

Uma das torturadas, uma guerrilheira esquerdista, é atualmente a presidenta do país, Dilma Rousseff, quem implementou uma Comissão da Verdade para desenterrar fatos do passado. À medida que vítimas e alguns poucos militares mostram evidências, surgiu o papel secreto do Reino Unido.

Primeiro as pancadas, depois as sensações

No começo da década de 1970, os governantes brasileiros estavam envolvidos em uma amarga luta contra guerrilheiros de esquerda. Foram reprimidos dirigentes sindicais, estudantes, jornalistas e quase todos os que expressassem alguma opinião contrária ao regime.

Alvaro Caldas pertencia a um grupo comunista quando foi preso em 1970. Ele passou dois anos preso dentro de um quartel da polícia militar no Rio de Janeiro.

Ele foi submetido a espancamentos, choques e pendurado no "pau de arara" – amarrado de cabeça para baixo por horas.

Ao ser solto, ele desistiu da política e passou a se dedicar ao jornalismo esportivo. Em 1973, voltou a ser preso. Caldas foi levado ao mesmo prédio, mas tudo estava diferente por lá.

"Desta vez, a cela estava limpa e esterilizada, com um cheiro nauseante. O ar condicionado era muito frio. A luz estava permanentemente acesa, então eu não tinha ideia se era dia ou noite. Eles alternavam sons muito altos e depois muito baixos. Eu não conseguia dormir de jeito nenhum."

Alvaro conta que a sensação avassaladora que sentia era medo. De tempos em tempos, alguns oficiais entravam na cela, o encapuzavam e levavam para interrogações. Ele sentia que o objetivo era desestabilizá-lo, fazendo-o confessar algum crime que não havia cometido.

Isso não era tortura física, mas sim uma pressão psicológica intensa.

"Por sorte, só passei uma semana lá. Se tivesse ficado duas semanas ou um mês, teria enlouquecido."

'Sistema inglês'

Esta nova técnica de interrogação ficou conhecida como "sistema inglês". Depoimentos coletados pela Comissão Nacional da Verdade – criada pelo governo para investigar episódios ocorridos durante a Ditadura Militar – explicam o porquê.
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