UE PRESSIONA AMÉRICA LATINA A NÃO AMPLIAR EXPORTAÇÕES PARA RÚSSIA

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(Ilustração: Carta Maior)

Bruxelas quer dissuadir países da AL a ocuparem mercados que ficaram abertos após resposta da Rússia às sanções da União Europeia e EUA.

Por Eduardo Febbro, no portal Carta Maior, de 13/08/2014

Paris - A União Europeia sofreu uma indigestão. Bruxelas ativou o plano "retórica" para dissuadir os países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Peru e Equador) a ocuparem os mercados que ficaram abertos após a Rússia proibir a importação de frutas, legumes, pescados, leite, carne de porco e laticínios provenientes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega. Por meio de declarações veiculadas pela mídia, a UE disse que não lhe parecia "leal" que os países latino-americanos se aproveitassem da crise com a Rússia para vender a Vladimir Putin os produtos mencionados
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Uma fonte da União Europeia disse ao Financial Times que o organismo europeu vai "falar com os países que, potencialmente, podem suprir essas exportações para recomendar que não se aproveitem injustamente da situação". Como agora não lhe convém, a Europa parece ter descoberto a injustiça que ela mesma promove em todos os níveis de suas relações comerciais com o resto do mundo, começando pelos desestabilizadores subsídios agrícolas, com os quais adultera a equidade dos mercados agrícolas mundiais. As sanções que o Ocidente adotou contra Moscou após a anexação da Crimeia pela Rússia e o apoio dado aos separatistas do leste da Ucrânia desembocaram em uma guerra comercial muito forte entre os blocos. Moscou respondeu às sanções com o embargo agrícola e imediatamente depois entrou em contato com os países latino-americanos capazes de substituir os produtos sob embargo.

Os russos foram muito rápidos em seu objetivo de contar, a partir de setembro, com a possibilidade de importar frutas, legumes, pescados, leite, carne de porco e outros produtos que eram comprados da UE por um total de 11 bilhões de euros (segundo fontes da comunidade, 5,2 bilhões correspondem aos produtos agora vetados). Serguéi Dankvert, diretor do Serviço de Inspeção Agrícola e Pecuária russo, reuniu-se em um primeiro momento com os embaixadores do Brasil, Argentina, Chile, Equador e Uruguai. Depois o governo de Vladimir Putin deu um passo muito mais concreto quando decidiu suprimir a proibição sanitária (vigente desde 2011) que pesava sobre 89 frigoríficos do Brasil e 18 fábricas peruanas de tratamento de pescado. Fora da geografia latino-americana, Turquia e Bielorussia se meteram na mesma brecha.

A União Europeia afirma que contempla iniciar negociações com os países latino-americanos com forte potencial para substituir os produtos europeus. Fontes anônimas da UE declararam para vários jornais que se trata de negociações políticas cujo objetivo consiste em "enquadrar" o maior número possível de países a fim de pressionar a Rússia. O tema, porém, é outro: os europeus temem perder o mercado russo em um momento no qual o renovado esquema da Guerra Fria produz uma significativa aproximação entre Rússia e América Latina. O momento mais emblemático dessa relação recuperada ocorreu em 2008, quando as forças navais da Rússia e da Venezuela realizaram manobras conjuntas no Caribe. A Rússia vendeu depois a Venezuela material militar em uma operação estimada em 3 bilhões de euros. 
 

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