ATILIO BORON: A VITÓRIA DE DILMA E A NECESSIDADE DA RECONSTRUÇÃO DO MOVIMENTO POPULAR



(Foto: Blog de Atilio Boron)
Para não sucumbir diante dos grandes poderes de fato se requer, em primeiro lugar, a urgente reconstrução do movimento popular, atualmente desmobilizado, desorganizado e desmoralizado pelo PT.

Nada poderia ser mais necessário para garantir a governabilidade do que o vigoroso surgimento do que Álvaro García Linera denomina “a potência plebeia”, adormecida por décadas sem que o petismo se atrevesse a despertá-la.

Por Atilio A. Boron (cientista político argentino) – no jornal Página/12, edição de hoje, dia 28, com o título “Dilma, vitória e depois” (o título acima é deste blog)

Difícil e angustiante vitória de Dilma no segundo turno. Mas o alívio sentido pelo veredito das urnas durou muito pouco. Ontem (segunda-feira, dia 27) os mercados se lançaram ao ataque com toda sua fúria: a Bolsa de Valores de São Paulo abriu com uma baixa de 6%, ainda que em seguida tenha se estabilizado em torno de 4%, enquanto que as ações da Petrobras e das empresas públicas caíam e o real se desvalorizava em torno de 4% em relação ao dólar. O objetivo deste exercício de terrorismo econômico é “marcar o terreno” da presidenta para seu segundo mandato, impor um dos seus no Ministério da Fazenda e no Banco Central e por fim à suposta “demagogia populista” de sua política econômica.

Por isso Dilma terá pela frente quatro anos duríssimos, o que confirma o quanto estava certo Maquiavel quando dizia que por mais que se lhes façam concessões, os ricos e poderosos jamais deixarão de pensar que o governante é um intruso que se imiscui em seus negócios e no usufruto de seus bens. São, dizia o florentino, insaciáveis, eternamente insatisfeitos e sempre propensos à conspiração e à sedição e comete um sério erro o governo que acredita que cedendo a suas demandas conseguirá aplacar sua beligerância. Dilma corre o risco de ser asfixiada por inimigos que não parecem muito dispostos a esperar outros quatro anos para chegar ao governo. A hipótese de um “golpe brando” não deveria ser descartada a priori; aí estão os exemplos de Zelaya e Lugo para convencer os céticos dos extremos aos quais pode chegar a direita quando as pessoas “se equivocam” ao votar.

Para não sucumbir diante dos grandes poderes de fato se requer, em primeiro lugar, a urgente reconstrução do movimento popular, atualmente desmobilizado, desorganizado e desmoralizado pelo PT, algo que Dilma não poderá fazer sem uma reorientação do rumo governamental que redefina o modelo econômico e corte os irritantes privilégios do capital.

Segundo, levar a cabo uma reforma política que dê poder às massas populares e abra o longamente retardado caminho duma profunda democratização. O Congresso brasileiro é uma perversa armadilha dominada pelo agronegócio e pelas oligarquias locais (até o último domingo, 253 deputados da Frente Parlamentar da Agroindústria sobre um total de 513), produto do escasso impulso dado à reforma agrária e das intermináveis piruetas políticas efetuadas pelo governo para destravar os vetos do Legislativo, o que só pode ser destravado a partir das ruas. Mas para que o povo assuma seu protagonismo e floreçam os movimentos sociais e as forças políticas que alavanquem a mudança – que não virá “de cima” – se requererá tomar decisões políticas, econômicas e sociais que efetivamente os respaldem.

Será este o curso da ação em que embarcará Dilma, a quem a direita local e internacional declarou guerra? Se não luta será esmagada pela reação. Sua única opção é travar a batalha. Mas não parece ser sua tendência, e muito menos a política do PT. Porém a irrupção duma renovada dinâmica de massas precipitada pelo agravamento da crise geral do capitalismo e como resposta diante da redobrada ofensiva da direita (discreta mas resolutamente apoiada por Washington) poderia alterar profundamente a propensão do Estado brasileiro (e do PT) a administrar os assuntos públicos de costas para o seu povo.

Nada poderia ser mais necessário para garantir a governabilidade do que o vigoroso surgimento do que Álvaro García Linera denomina “a potência plebeia”, adormecida por décadas sem que o petismo se atrevesse a despertá-la. Sem este vigoroso protagonismo das massas no Estado, este ficará prisioneiro dos poderes de fato tradicionais. E sua consequência seria desastrosa, não apenas para o Brasil mas também para toda nossa América, porque o bloco social e político que Aécio representa poria abrupto fim à Unasul e à Celac, promoveria o TLC com os Estados Unidos e a Europa, o ingresso à Aliança do Pacífico e erigiria um “cerco sanitário” em torno de Cuba, Bolívia, Equador e Venezuela para, em consonância com as expectativas da Casa Branca, fazer regressar a América Latina e o Caribe à condição existente nas vésperas da Revolução Cubana.

Atilio A. Boron é diretor do PLED, Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.

Tradução: Jadson Oliveira

O artigo acima é um resumo. Quem quiser lê-lo, na íntegra, em espanhol, clique aqui para o blog do autor.

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