COMUNISTAS QUE LUTARAM AO LADO DE MARIGHELLA LANÇAM FILME

Marighella combateu a ditadura durante toda a sua vida (Foto: Correio do Brasil)
“Cada um se mantém de pé, para transmitir aos jovens que cabe a eles levar em frente essas lutas, porque o inimigo continua a ser o mesmo: o capital financeiro internacional e seus agentes”.
Por Gilberto de Souza, com Conexão Jornalismo – do Rio de Janeiro – reproduzido do jornal digital Correio do Brasil, de 05/09/2015
O documentário produzido por Paulo Gomes Neto e Geraldo Sardinha leva ao público o relato de quem lutou ao lado do comandante Carlos Marighella, durante os ‘anos de chumbo’ da ditadura brasileira. A pré-estreia em São Paulo aconteceu neste sábado e, na próxima sexta-feira, será exibido na capital carioca. Foi dirigido por três militantes do Levante Popular da Juventude, movimento que retoma as lutas por soberania nacional e democracia plena que marcaram os anos 60 e 70.

Os Irredentos do título faz referência aos guerrilheiros que enfrentaram a ditadura militar e conseguiram permanecer vivos, dispostos a relatar a experiência de luta não mais na resistência a um golpe de Estado, mas na estrada para uma revolução social no Brasil. O filme traz depoimentos de 18 deles, ligados a diferentes grupos revolucionários, mas tendo em comum a inspiração de Carlos Marighella. A base do documentário é um livro homônimo, dedicado a um guerrilheiro dos tupamaros, grupo do qual fez parte o ex-presidente uruguaio José Mujica.
Relato
Paulo Gomes, produtor do filme e militante comunista conta que após a leitura do livro e o entusiasmo que se seguiu, com a ideia de fazer um filme, a tarefa maior foi localizar os sobreviventes da guerrilha – ou melhor, os Irredentos:
– No Brasil ainda existem muitos que lutaram naquela época e que até hoje não se renderam. Que ainda continuam a acreditar no sonho da transformação da sociedade brasileira, injusta e desumana, numa sociedade mais justa e fraterna. Queremos mostrar que nós não aderimos ao sistema, que ainda somos movidos pelos ideais que nos levaram à mobilização e ao enfrentamento do regime militar naquela época – afirmou.
O veterano produtor e combatente chama a atenção para um detalhe que considera muito importante:
– Os torturadores e opressores não podem contar a sua história. Eles têm vergonha disso, perante seus parentes, amigos e vizinhos. Quem estava do outro lado normalmente sente orgulho de sua trajetória no passado, mesmo os que pagaram um preço alto, que enfrentaram a dor e a morte. Cada um se mantém de pé, para transmitir aos jovens que cabe a eles levar em frente essas lutas, porque o inimigo continua a ser o mesmo: o capital financeiro internacional e seus agentes. Por isso é importante que cada vez mais a juventude conheça a história desses irredentos, lutadores do povo – acrescentou.
A pré-estreia em São Paulo aconteceu no Auditório Vitae do Memorial da Resistência, no bairro de Santa Ifigênia.
No Rio de Janeiro, o evento será no dia 11, sexta-feira que vem, às 17h, na OAB – Avenida Marechal Câmara, 150, 4º andar, Centro.
Comunistas históricos
O documentário foi realizado em parceria com a Gesto de Cinema Produções e o Levante Popular da Juventude. Contou também com o apoio do Instituto Rede Democrática – IRD, do Sindicato dos Petroleiros do RJ, do jornal O Saquá, da OAB-RJ e do Memorial da Resistência de São Paulo – Núcleo da Memória Política.
No Rio, o lançamento contará com a participação de Maria Prestes, viúva de Luis Carlos Prestes, histórica militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB); Pablo Videla e Julio Santucho, Raphael Martinelli e Francisco Soriano, que atuou no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário e na Ação Libertadora Nacional; Dulce Tupy, que integrou as fileiras do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, e é representante do “Saquá”; Paulo Mello Bastos, ex-piloto da Aeronáutica; e Pedro Alves, um dos fundadores do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8).
Antes disso, o documentário também será exibido na sede do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), no dia 9, às 10h. Na ocasião, também haverá uma palestra da argentina Mercedes Stasi, reconhecida defensora dos direitos humanos na América Latina. Para Jandir Santin, um dos diretores do filme, é importante mostrar ao público que o passado de militância política inspira a juventude.
– As novas gerações organizadas em luta representam um pedacinho de vitória, de revolução, do legado de inúmeras pessoas que até hoje lutam por uma sociedade mais justa.
Laís Melo, da equipe de direção, sublinha que o diferencial do documentário é a abordagem política pela ótica dos militantes.

– Irredentos debate a importância da memória, de contar a história sobre o ponto de vista que não o da lógica hegemônica. O fato de termos jovens cineastas no projeto revela que a utopia ainda pulsa e que as bandeiras não esmoreceram – conclui.

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